Os hispitais de São João e Santo António, no Porto, e o Curry Cabral, em Lisboa, foram já autorizados a usar o medicamento ainda experimental – o Remdesivir – que o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA diz ter demonstrado “dados positivos” na recuperação de doentes graves e ao qual os EUA atribuíram, há dias, uma “autorização de emergência”. À VISÃO, a Autoridade Nacional da Farmácia e do Medicamento – Infarmed revelou que aprovou um “programa de acesso precoce” (uma situação especial prevista no estatuto do medicamento) para que os doentes portugueses possam também receber este antiviral injetável. A especificidade deste medicamento passa por tentar bloquear a ação de uma molécula chamada RNA-polimerase, da qual o coronavírus precisa para replicar o seu genoma e proliferar pelo organismo do hospedeiro, ou seja, do infetado.
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Esta limitação do número de hospitais tem a ver com a capacidade de produção do medicamento pela Gilead, o laboratório que o produz e comercializa. Por isso, estão a ser escolhidos os países e os hospitais com mais casos de doentes graves com Covid-19. Ou seja, segundo tem explicado a empresa aos médicos que vão solicitando informação, a seleção de serviços de cuidados intensivos é feita de forma a dar prioridade aos “países em que o impacto da Covid-19 é maior”, seguindo “a evolução epidemiológica e geográfica da pandemia”.
Aliás, o Infarmed explicou ainda à VISÃO, que “determinou à empresa que garanta que o número de tratamentos é distribuído de forma proporcional ao número de doentes internados na Unidade de Cuidados Intensivos” de cada centro hospitalar.
Inicialmente, a farmacêutica começou a ceder o medicamento pelo mundo ao abrigo de uma opção que existe para casos excepcionais, que se chama “uso compassivo” e que permite usar fármacos não aprovados no mercado em certas situações-limite, como a de não existirem alternativas, requerendo, porém, um rigoroso processo burocrático. Perante a avalanche de pedidos – foram tratados no mundo 1700 doentes – a empresa suspendeu este processo e começou a definir acordos país a país para que este medicamento ainda experimental possa ser usado sem que o processo de autorização seja burocrático e longo.
Emergência nos EUA
Neste momento, estão a decorrer ainda ensaios clínicos para determinar se o medicamento é eficaz e seguro, o que ainda não está totalmente garantido. Um ensaio clínico que está a ser feito a 800 doentes no Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA já demonstrou, segundo informação divulgada pelos investigadores, dados positivos, nomeadamente que permite acelerar a recuperação de doentes severos. Por outro lado, os resultados preliminares destes ensaio indicam existir mais mortes nos doentes a quem foi dado o placebo, em comparação com os que tomaram Remdesivir. Mas o processo não tem sido pacífico: um estudo de cientistas chineses sugere que o medicamento pode ter benefícios mas para doentes moderados e não graves.
Sem esperar pelos resultados finais destes ensaios, o organismo que regula o mercado de medicamentos dos EUA (Food and Drug Administratin – FDA), decidiu atribuir, há dias, uma “autorização de emergência” ao Remdesivir para que este possa ser dado aos doentes que estão nos hospitais.
Tal como sucede em vários países, Portugal pode também, em breve, vir a realizar ensaios clínicos com este medicamento. É que, segundo adiantou ainda o Infarmed à VISÃO, está a considerar-se neste momento a realização de ensaios clínicos no País. Essa questão foi já partilhada com os responsáveis do laboratório farmacêutica – que tem vários ensaios a decorrer pelo mundo. Por outro lado, o Infarmed garante que informou a Gilead que “devem ser alargados o número de doentes a considerar no programa” , tendo igualmente de se” aumentar o número de centros nacionais envolvidos”.
Como a VISÃO noticiou na edição 1413, de 2 de abril, o Remdesivir tem sido visto como um dos medicamentos mais promissores para combater a Covid-19, estando a ser feitos vários ensaios clínicos. Ao todo, segundo dados da empresa, serão disponibilizadas, entre ensaios clínicos, uso compassivo e programas de acesso precoce, 1,5 milhões de doses. Ou seja, mais de 140 mil tratamentos individuais, tendo em conta que o medicamento é administrado por via intravenosa, diariamente, ao longo de vários dias.