O antiviral Remdesivir da empresa de biofarmacologia americana Gilead, é tido como uma das principais esperanças para o tratamento da Covid-19.
Até agora, os resultados dos estudos com este medicamento têm sido contraditórios. Num estudo com pacientes tratados no hospital de Chicago, os doentes estavam a recuperar melhor do que o esperado. Mas, na quinta-feira passada, foi publicado – e, entretanto, eliminado – no site da Organização Mundial da Saúde (OMS), um resumo dos resultados de outro muito aguardado estudo, na China, que demonstraram que os pacientes que tomaram o medicamento não melhoraram.
“Foi enviado um documento pelos autores do estudo à OMS, que inadvertidamente, o publicou no seu site”. “O manuscrito está a ser revisto e estamos a aguardar uma versão final antes de a OMS fazer um comentário”, disse a porta-voz da OMS, Daniela Bagozzi.
“Estas informações foram removidas, pois os investigadores do estudo não deram permissão para a publicação dos resultados, e além disso, acreditamos que o post incluía uma caracterização inadequada do estudo”, informou, no Twitter a Gilead.
O estudo, na China, foi interrompido devido à baixa participação de doentes, o que pode ter comprometido os dados. “Como tal, os resultados são inconclusivos, embora as tendências dos dados sugiram um potencial benefício do medicamento Remdesvir, principalmente nos pacientes tratados no início na doença”.
Com o cenário atual, não é possível entender como estão os pacientes a reagir ao medicamento. A promessa da Gilead é que irá divulgar os dados até ao final desta semana, segundo a Stat News.
Alguns especialistas estão preocupados com o estudo e com a sua estrutura. Uma das preocupações é o facto de este estudo não ter um “grupo de controlo”, isto é, um grupo de pacientes que não recebem o mesmo tratamento que o grupo experimental, levando a que não exista um termo de comparação. A única comparação possível neste teste é a duração do tratamento: cinco dias ou 10 dias de medicação.
“O estudo em si tem pouco ou nenhum valor científico, uma vez que todos os pacientes estão a receber o mesmo medicamento”, critica Steven Nissen, investigador e diretor da Clínica Cleveland, EUA. “O estudo, como está planeado, é essencialmente inútil e não pode ser usado pela Food and Drug Administration [o organismo que regula os medicamentos nos EUA] para considerar o medicamento Remdesivir como aprovado para tratamento de coronavírus”.
Também Peter Bach, diretor do Centro de Políticas e Resultados da Saúde do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, considera “frustrante”a forma como estudo foi conduzido: “Não incluírem um grupo de controlo no estudo, é um desperdício.”
A Gilead está também a desenvolver um outro estudo, desta feita com um grupo de controlo, em pacientes Covid-19 mais moderados, assim como o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, que está conduzir um estudo que compara o medicamento Remdesivir com um placebo.