A vida começa, lentamente, a voltar ao normal no Hospital de Santa Marta, em Lisboa. E um claro sinal desta normalização é o regresso dos transplantes pulmonares. Este fim-de-semana fez-se a primeira cirurgia deste tipo, após o início da pandemia. E só não aconteceu mais cedo, já na semana passada, porque o doente que poderia receber o órgão teve medo, por causa da Covid-19. “Perdeu-se o órgão, o que é sempre de lamentar”, conta o diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica daquela unidade de saúde do Centro Hospitalar Lisboa Central, José Fragata.
O transplante do fim-de-semana foi feito a uma pessoa que padecia de uma grave doença inflamatória do pulmão, depois de devidamente acordado entre o hospital e a autoridade de transplantação. “Normalmente, os doentes estão numa situação tão desesperada [de saúde] que aceitam ser transplantados, querem resolver o seu problema”, diz o médico.
Durante a pandemia, o Hospital de Santa Marta, que trata sobretudo doentes oncológicos e transplantados, manteve-se Covid free, recebendo apenas doentes que deram negativo para a infeção pelo coronavírus. Apesar de os cuidados com o controle da infeção serem já normalmente muito rigorosos nesta população de doentes, a pandemia obriga a uma vigilância ainda maior. “Hoje demora tudo mais tempo”, admite José Fragata, vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa.
No último mês e meio as cirurgias no Hospital de Santa Marta caíram 50% relativamente ao período homólogo do ano passado e as consultas 30%, sendo quatro em cada cinco destes atendimentos feitos pelo telefone.
Mesmo neste regresso à normalidade, serão mantidas as consultas telefónicas sempre que for possível. “O setor que mais rapidamente tem de voltar à normalidade é a Saúde. É importante que as pessoas percam o medo de vir ao hospital”, sublinha José Fragata.