No dia 31 de março, Portugal já somava 160 mortes por Covid-19 e os números oficiais indicavam 7 443 infetados. Na verdade, esse número deveria ser muito maior, de 201 415 pessoas infetadas pelo novo coronavírus. Ou seja, apenas 3,7% dos casos teriam sido detetados.
As contas forem feitas por dois investigadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, Sebastian Vollmer e Christian Bommer, que calculam uma percentagem de apenas 6% de casos identificados em todo o mundo. A “culpa” é da falta de testes – ou da falta de vontade em testar as pessoas.
O desconhecimento do verdadeiro número de infetados, os testes insuficientes e tardios (quando a doença já progrediu) podem explicar as diferenças entre as altas taxas de mortalidade em países como Itália ou Espanha e as baixas taxas de mortalidade da Alemanha, por exemplo, país que tem, no entanto, um alto número de infetados. Segundo o mesmo estudo, a Alemanha detetou 15,6% dos infetados, enquanto a Itália e a Espanha apenas registaram 3,5% e 1,7%, respetivamente.
A percentagem de casos detetados pelas autoridades é ainda mais baixa em países como os Estados Unidos da América e o Reino Unido, cujas medidas adotadas para travar a Covid-19 pecaram por tardias e insuficientes. Na América, apenas 1,6% dos doentes terão sido registados (de um total calculado de 11 milhões de pessoas), enquanto a percentagem no Reino Unido é de 1,2 por cento (no total de 2 milhões de infetados). Todos os números do estudo reportam ao dia 31 de março de 2020 e foram baseados nos dados mundiais da infeção publicados em The Lancet Infectious Diseases.
“Estes resultados mostram que os governos precisam de ter muito cuidado quando usam o número de infetados para planearem as políticas a seguir. Diferenças tão extremas entre os casos registados e os que estão por registar, relacionadas com os testes que se fazem, mostram que os números oficiais não trazem informação útil”, sublinha Sebastian Vollmer, professor na área da Economia. O co-autor Christian Bommer acrescenta: “É preciso melhorar muito a capacidade dos países de detetar novas infeções para conter o vírus”.
No lado oposto dos números estão países como a Coreia do Sul, a Noruega ou o Japão, conhecidos por testarem largas fatias da população. Ainda assim, no primeiro, terão sido detetados quase metade dos infetados; no segundo 37,8%; e no terceiro registaram-se um quarto do total de contaminados.
As políticas de Jair Bolsonaro para lidar com o novo coronavírus têm provocado no Brasil um maior desconhecimento dos doentes: apenas 0,95% dos casos terão sido detetados entre os mais de 600 mil que estariam infetados a 31 de março. Outros países como a Turquia, a Indonésia, Marrocos ou o Ecuador mantêm a percentagem de casos detetados abaixo de 1 por cento.
Uma segunda fase de testes, os chamados testes serológicos, para determinar quem já teve contacto com o vírus e poderá ter adquirido uma certa imunidade, serão assim cruciais para o regresso à normalidade.