Todos os dias, milhões de pessoas em todo o mundo procuram no motor de busca da Google respostas para os seus sintomas de saúde – e agora, mais do que nunca, essas respostas são urgentes. Num artigo publicado este domingo, 5, no New York Times, Seth Stephens-Davidowitz, economista e especialista em big data, defendeu que o número de pesquisas sobre os sintomas da Covid-19 pode ajudar as autoridades de saúde a determinar o próximo epicentro da pandemia. Mas as conclusões vão além disso.
Segundo o cientista norte-americano, nas duas últimas semanas os problemas oculares e a perda de olfato estiveram no top de pesquisas do Google nos EUA, a seguir aos sintomas mais comuns do novo coronavírus como febre, tosse e dor de cabeça. Mas mais surpreendente ainda, o maior número de pesquisas sobre esses dois sintomas aconteceu nos estados mais afetados pelo novo coronavírus, deixando no ar a questão: as dores oculares podem ser também sintomas da Covid-19?
Para Seth Stephens-Davidowitz a resposta é: “não, necessariamente”, no entanto, conclui: “Acho que os dados das pesquisas oferecem evidências sugestivas de que o ardor nos olhos pode ser um sintoma da doença. Porém, isso pode afetar apenas uma pequena fração dos doentes de Covid-19.”.
Ao que parece, as pesquisas no Google sobre “ardor nos olhos” dispararam nas últimas semanas, particularmente nos estados norte-americanos que têm vindo a registar as maiores taxas de infetados do país, como Nova York, Nova Jersey, Louisiana, Connecticut e Michigan. No entanto, sabe-se agora que este aparente sintoma também já foi registado na Europa. Entre fevereiro e março o número de pesquisas sobre dores oculares aumentou quatro vezes em Espanha e perto de 50% no Irão, em março. Mais, também na Itália as pesquisas sobre “bruciore occhi” (ardor nos olhos) cresceram cinco vezes mais no último mês.
Numa entrevista à CNN, Chelsey Earnest, enfermeira num lar em Washington, EUA, descreveu que para ela os olhos são o “fator mais importante” quando se trata de identificar sintomas do novo coronavírus. Ao que parece, os olhos adquirem uma tonalidade avermelhada como “se se tratasse de uma alergia ocular”.
A perda de olfato é outro dos sintomas mais relatados ao “doutor Google”. Segundo o cientista norte-americano, o Equador é já o país com o maior número de pesquisas neste tópico, o que faz Stephens-Davidowitz acreditar que esse seja o próximo epicentro da pandemia. Também nos EUA o número de pesquisas “não consigo cheirar” aumentaram em estados como Lousiana e Nova York e o mesmo aconteceu com o tópico “no puedo oler” (não consigo cheirar), o Equador lidera o número de pesquisas, dez vezes mais do que em Espanha.
Segundo um estudo coordenado por dois otorrinolaringologistas da Universidade de Mons, na Bélgica, a perda de olfato e paladar são dois sintomas frequentes nas pessoas afeadas pela Covid-19 na Europa. O estudo concluiu que os problemas olfativos e otorrinológicos surgem, normalmente, ao mesmo tempo que os sintomas gerais da doença (febre, tosse, dores musculares). E, ao que parece, as mulheres são mais sujeitas à perda do olfato do que os homens.
No final do artigo, o cientista deixa um alerta: “Os médicos e autoridades de saúde pública devem averiguar atentamente a relação entre a Covid-19 e o ardor nos olhos. No mínimo, precisamos de perceber porque existe um grande aumento no número de pessoas que relatam ao Google ardor nos olhos quando o número de casos conhecidos de Covid-19 num determinado local atinge níveis extremamente altos”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou mais de 1,28 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 72.000 morreram.