Os parasitas da família ‘Anisakis’, que infetam os seres humanos através do consumo de peixe e outros animais marinhos, são 283 vezes mais abundantes nos oceanos do que acontecia há 50 anos, segundo um estudo publicado hoje.
Num artigo publicado na revista científica Global Change Biology, condensam-se os resultados de vários estudos feitos ao longo dos anos para alertar para o aumento “dramático” destes nemátodos, que podem contaminar seres humanos pelo consumo de peixe, lulas, chocos ou polvos crus ou mal cozinhados, causando alergias e perturbações digestivas.
“Mostra como os riscos para os humanos e para os mamíferos marinhos estão a mudar. É importante saber isso do ponto de vista da saúde pública, mas também para perceber o que se passa com as populações de mamíferos marinhos que estão a diminuir”, afirmou a investigadora Chelsea Wood, da faculdade de Ciências Marinhas da Universidade de Washington.
Os ‘Anisakis’ encontram-se em muitas espécies marinhas. Quando são ingeridos por seres humanos podem invadir a parede intestinal e provocar sintomas parecidos com os de uma intoxicação alimentar: náuseas, vómitos e diarreia.
A anisaquíase afeta cerca de 2.000 pessoas anualmente, principalmente nos países asiáticos, mas a popularidade de pratos como o sushi, em que se utiliza peixe cru, faz com que aumente a incidência por todo o mundo.
Na maioria dos casos, os parasitas morrem em poucos dias e os sintomas desaparecem, mas algumas pessoas podem desenvolver alergias graves.
Para evitar a contaminação de humanos, as autoridades de saúde aconselham a congelar o pescado a temperaturas inferiores a 20 graus negativos ou cozinhá-lo a mais de 60 graus.
O ciclo de vida dos vermes, que podem atingir dois centímetros de comprimento, começa no fundo do oceano. Começam por contaminar pequenos crustáceos que vivem no leito marinho e passam depois para os peixes que comem esses crustáceos.
Vão progredindo na cadeia alimentar para peixes maiores e, no último estágio, contaminam humanos e mamíferos marinhos.
Enquanto nos intestinos humanos têm vida curta, nos dos outros mamíferos podem persistir e reproduzir-se.
Embora os riscos para a saúde humana sejam, portanto, reduzidos, os cientistas desconfiam que os ‘Anisakis’ possam estar a ter um grande impacto nas populações de golfinhos, baleias e focas.
Quanto ao que levou ao aumento da abundância dos parasitas, o estudo cita as alterações climáticas e os fertilizantes que são levados pelos rios até ao mar como hipóteses prováveis.
APN // JMR