Os dois primeiros casos do novo coronavírus em Itália foram registados entre o final de janeiro e o início de fevereiro de 2020. Desde então, o número de infetados aumentou constantemente. Ao fim do dia de terça-feira, o valor oficial atingia os 28 mil; a região mais atingida era a Lombardia, com quase 15 mil casos. Dos 2,9 mil mortos, mais de 1600 também se registaram na região, a mais populosa de Itália.
Já se sabia que os mais velhos eram os mais infetados. Eles e quem tivesse doenças do coração, pulmonares e imunológicas. Segundo as contas feitas pelas autoridades italianas no início de março, a média de idade das pessoas infetadas estava nos 60 anos. A dos mortos nos 81. Em Itália, os mais de 65 são 23 % da população (em Portugal esse valor está nos 20 por cento). Itália, o 24º país mais desenvolvido do mundo (e com índice de qualidade de vida entre os dez primeiros do planeta), não escapava assim ao padrão.
Tratar ou não tratar é a questão
Depois, o que se viu não foi bonito. Médicos e outros funcionários dos hospitais para lá de sobrecarregados e a ter de tomar decisões devastadoras sobre quem tratar e quem deixar de lado. A razão para tanto sofrimento, essa, aponta agora uma investigação da Universidade de Oxford, publicado na Demographic Science, pode ser tanto do plano social como da saúde. No país vive a segunda população mais antiga do mundo e os mais novos convivem frequentemente com os seus mais velhos.
“A longevidade prolongada desempenhou algum papel na mudança da estrutura da população”, diz a demógrafa e epidemiologista da Universidade de Oxford Jennifer Beam Dowd, principal autora do novo artigo – a alertar para outra perspetiva da questão: “É preciso ver que esse convívio é promovido por uma sociedade em que os avós ou estão a tomar conta dos netos ou vivem sozinhos”.
As viagens regulares para ir à terra ver da família também são apontadas neste retrato porque podem ter exacerbado a disseminação silenciosa do novo coronavírus. Sem sintomas, foi rápido o contágio à população mais vulnerável.