A denúncia chegou à redação da VISÃO por e-mail, ao final da tarde de sexta-feira, 13. Em vésperas de ir de fim de semana, Jorge não quis deixar de lançar um grito de alerta. “Estou muito ansioso e preocupado”, há de justificar, ao telefone, este pai de dois adolescentes.
C., a mais velha, tem 16 anos e está desde quinta-feira com suspeitas de ter contraído o coronavírus, mas a família foi informada de que ela não será testada. São, por isso, muitas as suas interrogações.
“Esta situação afigura-se normal? Isto será para mascarar o numero oficial de infetados? Não terá que ser testado todo e qualquer caso suspeito de quem esteve efetivamente e comprovadamente em contacto com um ou mais casos confirmados de COVID-19? Parece-me ser uma situação perigosa e que terá que ser revista de imediato”, desabafa este funcionário público de Portimão. “Isto não pode estar a acontecer ou será que queremos ir pelo mesmo caminho de Itália?!”
O caso de C. não é único, garante Jorge. Tal como ela, que foi para casa de quarentena na segunda-feira, 9, pelo menos mais outras suas três colegas, por coincidência todas raparigas, desenvolveram entretanto sintomas que se coadunam com uma infeção por coronavírus. E também nenhuma delas foi testada.
As quatro estudam na Escola Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, e são alunas da professora de Geografia que teve resultado positivo nas análises ao coronavírus depois de passar férias em Itália. Esse estabelecimento de ensino foi encerrado, assim como a Escola Básica 2,3 Professor José Buísel, onde a docente dava igualmente aulas. “Não há dúvida de que a minha filha e as outras miúdas estiveram em contacto direto com uma pessoa infetada”, nota Jorge.
Quinta-feira, 12, C. começou a ter febre, tosse, prostração e dificuldade em respirar. A Delegada de Saúde local, que tem estado a monitorizar os casos, disse, então, que a adolescente deveria ser testada para despiste do COVID-19, pelo que os pais seriam encaminhados para a linha SNS 24.
“Efetivamente, fomos contactados pela linha SNS 24 e, após largos períodos de espera, análise da situação e mais períodos de espera, fomos informados de que, muito provavelmente a miúda, estará infetada, mas que não será testada”, conta Jorge. “Disseram-nos que ela tem de estar em quarentena total, sem qualquer contacto com o resto da família, e que deve fazer paracetamol para a febre e xarope para a tosse. Vão continuar a monitorizar e, se tiver febre acima dos 38 graus e muita falta de ar, que possa pô-la em perigo, devemos acionar o INEM.”
Assegurar a quarentena total de C. é, segundo Jorge, muito complicado – se não mesmo impossível. Ele, a mulher e os dois filhos moram num T2 com 80 metros quadrados, sendo que o rapaz, de 13 anos, também se encontra em isolamento porque é aluno da Escola Básica 2,3 Professor José Buísel.
Acresce que tanto ele como a mulher, também funcionária pública, trabalham em contacto com o público. “E se nós estamos infetados e transmitimos o vírus? Não quero pôr ninguém em risco. No meu departamento foi pedido o teletrabalho, mas na segunda-feira ainda fiquei de me apresentar ao serviço.”
Nestas últimas horas, Jorge confessa que já não sabe o que fazer. “Estar sem saber se a minha filha tem o COVID-19 é o que me aflige mais”, diz. “E há alguma ansiedade do lado dela. Tem sido uma adolescente saudável, felizmente, mas está em baixo.”