“E não, não vou para a praia, claro”. Responsável pela contratação pública numa empresa do Setor Empresarial do Estado, Ana Almeida, 47 anos, até já fazia teletrabalho muitas vezes. Agora, que se fala tanto em contenção e distanciamento social, a opção fez-lhe todo o sentido. “Para mim, trata-se de um ato de responsabilidade social.”
É verdade que a natureza do seu trabalho ajudou – basta um computador, ligação à internet e um telefone. E que decisão foi apressada pelo facto de uma funcionária ter estado numa zona do país onde há cadeias de transmissão ativas – e se ter posto em quarentena. Desde então que, para todas as áreas da empresa, se preparava a conexão à distância de todos.

A ideia era estar a postos para entrar em modo teletrabalho, caso chegassem orientações superiores para isso. Para já, a decisão ficou a cargo de cada equipa. “O importante é mantermo-nos em contacto permanente e em segurança.” E isso já Ana está a fazer.
E não é caso único. Desde o início a semana que a prática se está a estender a várias empresas. Em boa verdade, essa era já uma das recomendações da Direção Geral da Saúde desde o final de fevereiro. As empresas deviam preparar-se para a possibilidade de parte ou a totalidade dos seus trabalhadores não irem para a empresa, avaliando que atividades eram imprescindíveis na empresa e os recursos essenciais para as manter. Agora, acaba de anunciar o governo, todos os funcionários públicos deverão ir trabalhar para casa, salvo casos em que não é possível.
O FUTURO É AGORA
Teletrabalho, substantivo masculino, refere-se, segundo o Dicionário Priberam, à atividade profissional realizada fora do espaço físico da entidade empregadora. Faz-se com recurso às tecnologias de comunicação à distância e de transmissão de dados. Durante muito tempo, foi apenas uma utopia prevista na ficção científica. Depois, com o boom da internet, chegou a ser apregoado como panaceia.
Mas a crise de 2008 levou muitos a questionar as suas vantagens e as pessoas voltaram aos postos de trabalho. Agora, com a pandemia de Covid-19, já oficialmente decretada pela Organização Mundial de Saúde, a modalidade foi rapidamente recuperada. Do Twitter à Google, os exemplos estão a ser revistos e alargados à velocidade possível.
“Com muita cautela, e para a proteção da Alphabet e da comunidade em geral, recomendamos que trabalhem em casa”, escreveu Chris Rackow, vice-presidente de segurança global da empresa, num email aos trabalhadores, citado pela BBC.
Por razões óbvias, as tecnológicas foram as primeiras a responder ao apelo ao sentido cívico das empresas. Em Portugal, inclusive. A Vodafone implementou o modelo desde o início de Março. A Altice também aprovou já o mesmo regime para grávidas e doentes oncológicos.
O efeito mimético estendeu-se à EDP, que esta semana já colocou metade dos seus trabalhadores a trabalhar em casa. E também alastrou aos bancos, como se percebe no comunicado da própria Associação Portuguesa de Bancos a apelar aos clientes para que usem o mais possível o homebanking .
Neste mesmo regime estão ainda as universidades – suspenderam atividades presenciais, mas preveem aulas virtuais.