Os fagos são parasitas de bactérias e podem, em contextos específicos, aumentar a virulência de certas estirpes de bactérias, o que, só por isso, explica a relevância (e a urgência) de compreender melhor estes “habitantes” do corpo humano.
Uma equipa da Universidade de Ciências da Saúde de Karl Landsteiner, da Universidade de Medicina Veterinária de Viena e da Universidade de Lisboa quis aprofundar o conhecimento sobre este bacteriofagos, como também são conhecidos, com ênfase nos que atacam a bactéria Escherichia coli (E. coli), que desempenha um papel significativo em várias doenças e é tida como a causa mais comum das infeções hospitalares.
No total, foram encontrados 43 vírus destes em amostras de fluídos corporais humanos, sobretudo em amostras de sangue. Entre estes, uma surpresa: um que ainda não se conhecia.
À VISÃO, a investigadora Cátia Pacífico, principal autora do estudo agora publicado no Frontiers of Microbiology, explica que os fagos podem, por exemplo, provocar a transferência horizontal de genes de resistência a antibióticos, toxinas, e permitir à bactéria uma melhor colonização do hospedeiro humano ou animal. “Muitas das vezes os fagos podem até mesmo estar na génese de novas estirpes bacterianas”, esclarece.
Foram examinadas 111 amostras de sangue, urina e outros fluídos corporais para perceber a presença de fagos e estes foram encontrados numa em cada sete amostras, uma incidência que, a juntar à descoberta do novo vírus mostra o “pouco que sabemos sobre os fagos no corpo humano”.
Segundo a investigadora, este fago novo “é particularmente interessante do ponto de vista ecológico porque foi encontrado em várias amostras. Poderá refletir um tipo de fago característico dos biomas humanos. É sabido que, por exemplo, a flora intestinal é habitada por diversos tipos de fagos que mantém as bactérias ‘em check’. Mas pouco há feito sobre isolamento e caracterização destas entidades biológicas”.
Além do fago novo, a equipa encontrou ainda um outro, que “também apresenta um elevado grau de divergência” em relação aos que já eram conhecidos e que o deixa, segundo Cátia Pacífico, “mesmo na fronteira do ‘é uma nova espécie ou não?'”