Já sabíamos que as gorduras trans, presentes sobretudo em alimentos processados, eram a principal causa de problemas cardiovasculares, contribuindo também de forma dramática para o aumento de casos de obesidade e diabetes tipo II. Agora, de acordo com um estudo publicado na revista Neurology, fica clara a relação entre o seu consumo e o desenvolvimento de Alzheimer.
Ao longo de 10 anos foram acompanhados cerca de 1600 homens e mulheres japoneses, sem sinais de demência. No início do estudo foram analisados os níveis de gordura trans presentes no sangue e foram ajustados outros fatores que poderiam afetar o risco de demência, como a tensão alta, diabetes e tabagismo.
Os cientistas concluíram que os indivíduos com os dois níveis mais altos de gorduras trans no início do estudo tinham entre 52% e 74% mais hipóteses de desenvolver Alzheimer do que aqueles que apresentavam níveis mais baixos.
Toshiharu Ninomiya, um dos autores do estudo e professor de saúde pública na Universidade de Kyushu, no Japão, explicou ao New York Times que não foi possível medir o impacto do consumo de uma pequena quantidade destas gorduras mas que a conclusão global do estudo é clara: “É melhor tentar evitá-las o máximo possível.”
E isso, convenhamos, não é nada fácil. Estas gorduras estão presentes em quase todos os alimentos produzidos de forma industrial. São um tipo de ácidos gordos insaturados que se formam durante o processo de hidrogenação de óleos, com vista à sua solidificação, de forma a melhorar o perfil sensorial, o aroma e a textura de um produto, além de aumentar a validade em prateleira e permitir o seu aquecimento repetido.
Todos os alimentos que apresentem no rótulo designações como “gordura hidrogenada”, “óleo parcialmente hidrogenado” ou “shortening” têm gorduras trans, e este “ingrediente” existe em bolachas e bolos, batatas fritas e refeições pré-cozinhadas, em cereais de pequeno-almoço, chocolate para barrar ou até no pão. Se surgir até ao quarto lugar da lista de ingredientes, o produto contém grande quantidade destes ácidos gordos insaturados.
As gorduras trans existem naturalmente nalguns alimentos, como na carne e lacticínios de animais ruminantes, mas em quantidades diminutas (até 6% da gordura total, enquanto num produto industrial pode chegar aos 60%), e também se forma nalguns processos culinários, como o aquecimento repetido de óleo para frituras.
A Dinamarca foi o primeiro país a limitar as gorduras trans, em 2003. Áustria, Hungria, Islândia, Noruega e Suíça seguiram o exemplo mas a legislação europeia obriga apenas à indicação da sua presença no rótulo (embora não a quantidade).
Na última década a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem vindo a alertar a indústria alimentar para a necessidade de serem alterados os métodos de produção e em vários países, tal como em Portugal, existem alguns acordos de regulação, tal como para as quantidades máximas de sal e açúcar, mas ainda há um longo caminho a fazer neste domínio.
A OMS estipula que o consumo deste tipo de gorduras não deverá ser superior a 1% do valor energético total da nossa alimentação diária. Traduzindo: de acordo com o Programa Nacional da Alimentação Saudável, da Direção-Geral de Saúde, deve ser inferior a 2 gramas – o que, num normal menu dos nossos dias, é verdadeiramente uma migalha.