Não se pense que a acne é apenas um problema dos mais novos. “Se 85% dos adolescentes podem ter esta doença, no adulto a prevalência – até aos 40 anos – pode ser da ordem dos 40%.” O alerta é dado por Evelina Ruas, dermatologista no Centro Cirúrgico de Coimbra, que lembra ser esta uma doença inflamatória crónica que não pode ser menosprezada. Pode surgir por vários motivos. “Sabemos que existe um fator genético importante: pais que tiveram acne têm maior probabilidade de que os filhos venham a sofrer do mesmo problema”, explica, por seu lado, Leonor Girão, especialista em Dermatologia e Veneorologia da Sociedade Portuguesa de Dermatologia, notando que há outras causas, como as hormonais.
“É típico o aparecimento das lesões da acne na adolescência, a acompanhar as alterações hormonais desse período de desenvolvimento”, afirma. Além disso, a aplicação de cosméticos demasiado oleosos, os ambientes poluídos, os climas quentes e húmidos, certos medicamentos e o stresse também podem causar vários tipos de borbulhas.
A acne “pode ser considerada como ligeira ou moderada e grave ou severa”, esclarece António Massa, dermatologista da Clínica Dr. António Massa, no Porto, confirmando que, além da acne vulgar que afeta os mais novos, este problema aparece cada vez mais em adultos: “É particularmente marcante, pois as pessoas, quer para a vida social quer no seu emprego, precisam de ter uma face apresentável.” A acne provoca dor, edema e inchaço na pele, chegando a deixar marcas para a vida. Por isso, a Sociedade Portuguesa de Dermatologia tem alertado para a importância de se fazer uma avaliação clínica detalhada e de se realizar exames para se definir um tratamento adequado o mais rápido possível. “Quando não são tratadas precocemente, essas lesões podem levar ao aparecimento de cicatrizes que, embora consigamos melhorar, nem sempre são satisfatórias para o doente”, diz António Massa.
A VISÃO Saúde falou com estes três especialistas e reuniu as 10 dicas fundamentais, para se prevenir e se combater a acne.
1. PROTEGER-SE DA POLUIÇÃO
Deve afastar-se, sempre que possível, de ambientes muito poluídos, do contacto direto com o fumo do tabaco e com poeiras, no geral. Os ambientes muito quentes e húmidos são de evitar.
2. ESCOLHER OS PRODUTOS DE HIGIENE CORRETOS
Utilize produtos que limpem a pele sem a desengordurar em excesso. “Caso contrário, o organismo vai tentar compensar esta carência originando ainda mais oleosidade”, explica Leonor Girão. Existem múltiplos géis de limpeza próprios para a pele acneica, diz a especialista.
3. MANTER A PELE HIDRATADA
“Embora seja oleosa, a pele com acne também precisa de ser hidratada”, sublinha Leonor Girão. A solução, diz, passa pelo uso de cremes, géis ou séruns de base aquosa ou de silicone, sem gordura (denominados “oil free”). Além disso, alguns destes produtos têm ingredientes que ajudam a controlar a oleosidade e a regularizar as imperfeições da pele. Evelina Ruas lembra que “lavar o rosto regularmente e remover a maquilhagem é um passo importante e fundamental”.
4. NÃO ESPREMER AS BORBULHAS
“É obrigatório não espremer espinhas, senão ficam marcas que vão perdurar”, garante António Massas. Como a acne é resultado de uma oleosidade excessiva, de células mortas e de bactérias, ao espremer as borbulhas poderá haver um aumento da inflamação, infeção ou até um desenvolvimento das cicatrizes que não desaparecem.
5. EVITAR CERTOS ALIMENTOS
De acordo com Leonor Girão, os vários estudos realizados ao longo do tempo ainda não conseguiram provar a existência de uma relação causa-efeito direta entre certos alimentos e a acne, nomeadamente o chocolate, as azeitonas e os fritos. Apesar disso, alimentos como a massa, por exemplo, que criam picos glicémicos, assim como laticínios de animais alimentados com hormonas podem contribuir para o aparecimento ou agravamento da acne. Portanto, deve consumi-los com moderação, alerta a médica.
6. USAR CREMES PRÓPRIOS
Em casos de acne mais ligeira, uma boa solução para tentar controlá-la é recorrer a medicamentos tópicos em creme, gel ou solução. Uns são substâncias antibacterianas (como o peróxido de benzoílo sozinho ou em combinação com retinoides tópicos), outros têm uma ação exfoliante suave (como o ácido salicílico ou o ácido glicólico). Contudo, são tratamentos que demoram mais tempo a atuar e a ter o efeito pretendido.
7. TER CUIDADO COM A CONTRACEÇÃO
Muitas mulheres conseguem controlar as flutuações hormonais, que lhes provocam borbulhas, com uma pílula adequada que bloqueie as hormonas indutoras da oleosidade. “A pílula é só por si uma forma de tratamento”, diz António Massa, acrescentando que, “muitas vezes, tal não chega e é necessário recorrer a outros medicamentos”.
Apesar de a pílula poder ajudar, Leonor Girão deixa um alerta: tenha atenção, pois algumas pílulas e implantes hormonais têm uma combinação hormonal que pode fazer com que o problema da acne seja agravado.
8. TOMAR MEDICAMENTOS ADEQUADOS
Nos casos mais graves de acne, a pílula não é suficiente e torna-se necessário recorrer a outros medicamentos. Segundo António Massa, é possível usar antiandrogénicos, corticoides, isotretinoína e antibióticos – estes do grupo das tetraciclinas ajudam a diminuir as bactérias e a inflamação, mas só podem ser usados durante 6 meses. Também os retinoides sistémicos, derivados da vitamina A, são uma boa opção para se inibir a oleosidade, regular a retenção e impedir o crescimento bacteriano. Estes últimos são indicados para períodos mais longos.
9. EXPERIMENTAR NOVAS TÉCNICAS
Existem muitas técnicas complementares para se melhorar o estado da inflamação, a retenção e as cicatrizes provocadas pela acne, como a biomodulação com luz LED azul, os peelings químicos, a bioestimulação com plasma rico em plaquetas e o laser para corrigir as cicatrizes.
10. NÃO DEMORAR A TRATAR
Tome nota do seguinte, alerta Leonor Girão: “Quanto mais cedo começar a tratar, melhor serão os resultados e menos sequelas terá.” Segundo a médica, curar a acne poder deixar cicatrizes que ficam para sempre.