O calor intenso aumenta a probabilidade de se vir a sofrer um enfarte e o mesmo acontece com os AVC. Segundo Joana Feliciano, cardiologista do Heart Center do Hospital Cruz Vermelha, os dados nacionais e internacionais referentes ao número de eventos agudos cardiovasculares reportam, na sua maioria, que as alterações da temperatura, com calor ou frio extremos, mas também a maior amplitude térmica diária, têm uma maior relação com o desencadear de um episódio agudo.
No caso do calor, o risco é maior porque o organismo vai reagir ao aumento das temperaturas de forma a conseguir adaptar-se a elas e a atingir uma temperatura corporal ideal. Portanto, vai haver um aumento da vasodilatação e da transpiração, o que vai fazer com que o corpo perca uma grande quantidade de água e sais minerais.
Em resposta a esta desidratação, os vasos sanguíneos vão contrair para manter a pressão arterial e a frequência cardíaca vai aumentar, o que vai exigir um maior esforço do coração, aumentando, também, a viscosidade do sangue. Esta situação, embora possa “ter pouco efeito na população saudável”, explica Joana Feliciano à VISÃO, é perigosa para os grupos mais vulneráveis, “nomeadamente os idosos, diabéticos e pessoas com doença aterosclerótica estabelecida”, contribuindo para o aumento do risco de enfarte do miocárdio e de acidente vascular cerebral.
Embora estes eventos sejam imprevisíveis, há comportamentos que todos devem adotar e que podem ajudar a preveni-los. A médica alerta para a importância de se respeitarem as recomendações da Direção-Geral da Saúde, que incluem evitar a exposição direta ao sol, manter a hidratação corporal, fazer refeições mais leves, evitar bebidas alcoólicas ou muito açucaradas e tentar estar em locais frescos durante as horas de maior calor.
“Os idosos têm um estímulo da sede atenuado ou mesmo ausente, pelo que a hidratação deve ser uma prioridade”, acrescenta, ainda, Joana Feliciano, referindo, também, que nos doentes crónicos e medicados, principalmente, com diuréticos e vasodilatadores, deve ser considerada uma diminuição da medicação prescrita ou a realização de um ajuste terapêutico.
“Nestes doentes, pode haver, até, uma terapêutica com dosagens diferentes para o tempo frio e para o tempo quente”, afirma a médica.
Apesar de o risco ser maior nos grupos mais vulneráveis, um enfarte agudo do miocárdio é, muitas vezes, a primeira manifestação de doença coronária em pessoas supostamente saudáveis ou com um ou mais fatores de risco vulgares, como o tabagismo, o colesterol elevado, diabetes, excesso de peso e obesidade, sedentarismo e hipertensão arterial.
“Por isso, a prevenção primária é fundamental e os programas de rastreio e check-ups existentes devem ser promovidos”, refere Joana Feliciano.