Entre junho e outubro de 2017 ficámos verdadeiramente chocados com a morte de mais de 100 pessoas, em resultado dos incêndios em Pedrógão Grande. Uma tragédia forte, chocante e inesperada que flagelou centenas de famílias e a que ainda hoje a comunicação social continua a dar “eco” nas notícias.
Mas, os números ali retratados correspondem a 10 dias de mortes causadas pelo cancro do intestino em Portugal! Sim, em Portugal morrem 11 pessoas por dia com cancro do intestino, quase 4.000 por ano: um verdadeiro caso de saúde pública.
Desde que a Europacolon Portugal existe, há doze anos, já morreram quase 5 mil pessoas! Estes são os números de uma doença que atinge 7.900 novos casos, por ano, e cuja dor se difunde por igual número de famílias.
Sobre os incêndios, todos os decisores tomaram posição política e aplicaram-se medidas de prevenção para que tal não volte a acontecer. No que respeita o cancro do intestino, o ato preventivo que é o Rastreio de Base Populacional e que, segundo os especialistas, evitariam mais de 2/3 das mortes e poupariam milhões de euros ao orçamento Nacional de Saúde, continua por implementar de forma sistemática, populacional e institucional em Portugal.
Por contraponto, analisa-se a notoriedade mediática das consequências dos incêndios que corresponderam a milhares de horas em todos os canais. Em oposição, infelizmente percebemos que o espaço noticioso que é dado à promoção da saúde e à prevenção deste tipo de patologias é muito limitado.
Em 16 de dezembro de 2016 foi oficialmente lançado o rastreio em Portugal, em dois ACE´s no Norte do país. Desde então e contra o planeado, as expectativas criadas e os documentos normativos emitidos, verificaram-se algumas experiencias piloto iniciais no norte, sem conhecimento até à data dos resultados, e uma tentativa tímida, sobretudo oportunistica, do início deste rastreio nalgumas áreas do nosso país. Salientamos positivamente o novo espirito da gestão da ARS Lisboa Vale do tejo, que face ao vazio de vários anos em todas as áreas de rastreio, começou a implementar, apesar de forma não continua, este rastreio
Não obstante, Lisboa e Alentejo apresentam a taxa mais elevada de mortalidade! O norte e o centro do país, revelam a maior incidência de cancro do intestino e ainda está por aplicar o rastreio de base populacional!
A realização das colonoscopias de seguimento aos já pacientes, de acordo com as recomendações internacionais, não estão a ser cumpridas, nem em tempo adequado. A falta de gastrenterologistas, a fraca resposta do Serviço Nacional de Saúde e as assimetrias regionais traduzem-se no flagelo nacional que é esta doença.
São diagnosticados mais de7 mil novos casos a cada ano, existem cerca de 80 mil doentes ativos e 50% da população desconhece os sintomas desta doença.
Mais preocupados ficamos quando temos conhecimento de que, apesar de obrigatoriamente contratualizado, as colonoscopias de seguimento (exame de diagnóstico complementar), efectuadas a todos os utentes com teste positivo na pesquisa de sangue oculto nas fezes, são realizadas, na maior parte dos casos, em prazos muito longos após a sua deteção, contrariando tudo o que está definido cientificamente sobre a matéria e colocando em risco a vida dos utentes que têm probabilidade de ter uma doença oncológica!
Preocupados ficamos, também, quando confirmamos que, mesmo nos testes organizados pontualmente pelas Administrações Regionais de Saúde (ARS) com resultado negativo, a repetição obrigatória de dois em dois anos nem sempre é executada!
Os desafios da Gestão de “Saúde”, no nosso país, vão ser enormes nos próximos anos, em recursos humanos e meios financeiros necessários. No nosso entendimento, a parte mais fácil e que exige menos esforço financeiro são as ações preventivas de saúde.
Se os políticos não forem capazes de assumir este desígnio, mal estará o futuro dos portugueses.
Pela nossa parte, a Europacolon Portugal, não vai desistir. Estamos a promover, em parceria com as Farmácias Holon, um rastreio através da Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes, para pessoas acima dos 50 anos. Este tipo de campanhas reflete-se numa maior atitude preventiva e na diminuição da mortalidade em cerca de 16%.
Ainda acreditamos que “um dia”, “algum” governo irá instituir a Saúde, como a prioridade Política Nacional!
Vamos continuar o nosso caminho que reconhecemos, por vezes, ser incomodativo, mas é a nossa missão.
Pela sua parte, mero cidadão, se tiver mais de 50 anos exija o rastreio ao intestino. A sua família, o governo e a sociedade ficar-lhe-ão gratos!