Comer chocolate provoca acne. Ou então não. Há inúmeras investigações que afirmam que não resistir à tentação pode fazer com que apareçam borbulhas na pele, mas existem outras que desmentem esta ideia.
Num estudo americano de 2016, foi pedido aos voluntários que ingerissem aleatoriamente uma barra de chocolate ou 25 gomas, com a mesma carga glicémica. Os investigadores descobriram que as gomas não provocaram nenhum efeito no aparecimento de acne. Contudo, quando os participantes consumiam chocolate, as borbulhas na cara aumentavam, sendo que, em média, as pessoas ficavam com mais cinco borbulhas com a ingestão de chocolate, relativamente ao grupo que não o tinha ingerido.
Outra investigação de 2016 que teve em conta 25 voluntários do sexo masculino deu conta de que, depois de quatro semanas de consumo diário de uma barra com 99% de chocolate amargo, havia um aumento significativo de borbulhas e pontos negros em homens com tendência a ter acne.
Algumas pesquisas sugerem que o chocolate pode ter influências pró-inflamatórias na pele, o que contribui para a acne inflamatória, caraterizada por pápulas e pústulas vermelhas, principalmente na presença de bactérias causadoras de acne.
Na verdade, no livro “Cem mitos sem lógica“, da jornalista Sara Sá e de Pedro Ferreira, que desconstrói uma centena de ideias preconcebidas sobre diferentes temas, é explicado que “nada foi provado relativamente à ligação entre chocolate e borbulhas na cara”.
Apesar de haver até alguns médicos que recomendam a não ingestão do alimento a quem sofre do problema, esta “ligação, supõe a dermatologista norte‑americana Ava Shamban, terá origem na síndrome pré‑menstrual. Segundo a tese da médica, explicada aoThe Huffington Post, nesta fase do ciclo, as mulheres sentirão a tentação de recorrer ao poder do chocolate para acalmar a neura. Ora, durante a fase pré‑menstrual, os níveis de estrogénio baixam e os de androgénio sobem, o que, nas mulheres com tendência para a acne, leva ao aparecimento de borbulhas. E quem paga é o chocolate”, assim se lê no livro.
Neste ponto, pode ler-se ainda outro motivo que pretende justificar a alegada ligação entre o chocolate e a acne: “…pode haver um outro efeito indireto: quem abusa dos chocolates e dos doces, fica sem espaço para a ingestão de comida saudável e boa para a pele, como as frutas e os legumes, que contêm nutrientes essenciais à saúde da cútis”.
À CNN, Patricia Farris, dermatologista e membro da Academia Americana de Dermatologia, explica que alimentos com índice glicémio elevado, ricos em hidratos de carbono refinados e açúcar, como bebidas açucaradas e pão processado, são prejudiciais a peles propensas a ter acne.
De acordo com a especialista, esse tipo de alimentos provoca um pico de açúcar no sangue, o que faz com que aumente a produção de insulina, um fator de crescimento semelhante à insulina e andrógenos, que levam a uma maior produção de sebo.
“Os picos de insulina são acnegénicos, por isso não queremos dietas com alto índice glicémico”, explica a dermatologista, que afirma que esta ligação não é direta nem certa quando se fala de chocolate.
Também Ana Bravo, nutricionista na clínica Saudarte, no Porto, diz que, apesar de se pensar que não existe uma associação direta entre a alimentação e a acne, não deve ser totalmente descartada a hipótese de uma possível ligação, já que “a evidência acerca da relação com os alimentos de elevado índice glicémico, que favorecem a inflamação do organismo, tem sido crescente”. Pelo contrário, explica a especialista à VISÃO, a relação com o consumo de ómega-3, frutos gordos, fibras, vitamina A, zinco e outros antioxidantes permanece fraca e inconclusiva.
Apesar disso, diz Ana Bravo, o conhecimento sobre a influência da dieta alimentar nas causas e desenvolvimento da acne “permanece raro e pouco claro”, abrindo espaço à perpetuação de diferentes mitos e hipóteses.
“Se nos focarmos no chocolate em particular, desde logo devemos ter em conta de que este alimento é composto por diversos ingredientes, alguns antioxidantes e anti-inflamatórios, e outros pro-inflamatórios, como o açúcar”, esclarece a nutricionista.
E, apesar de algumas pesquisas demonstrarem uma relação entre o seu consumo e os sintomas de acne, “são estudos pequenos, com aspetos metodológicos pouco adequados e amostras pequenas”, o que torna desadequado generalizar para toda a população, diz a especialista.
Até porque há outros fatores que podem condicionar o aparecimento de acne, como a poluição ambiental e o fumo de tabaco, a utilização de produtos de pele facial agressivos, a medicação, fatores hormonais e predisposição familiar e fatores relacionados com o estilo de vida e stress.
Pelo sim, pelo não, deve optar-se por ingerir este produto com alguma moderação, sem prescindir de alimentos como frutas e vegetais, que devem ser consumidos diariamente. E, já se sabe, o negro é o mais saudável.