Já se sabe que o exercício físico e um estilo de vida saudável são o melhor que podemos fazer pela saúde do nosso cérebro. Tanto que à doença de Alzheimer, uma das formas de demência, há quem chame diabetes tipo 3, pela relação tão direta entre o seu aparecimento e o excesso de peso e a inatividade física. Mas até agora ainda ninguém tinha falado do papel da saúde da boca no enigma que são estas doenças do cérebro.
Agora, um estudo acabado de publicar obrigou todos os que se interessam e preocupam com o assunto a olhar para a boca. No trabalho publicado na revista Science Advances dá-se conta da relação entre a bactéria que causa infeção na gengiva e a doença neurodegenerativa crónica.
São vários os dados apresentados pela equipa, que envolve médicos e investigadores americanos, polacos e australianos. O trabalho também envolveu testes em ratinhos bem como amostras colhidas em pacientes de Alzheimer, vivos e após a morte. A saber: a bactéria Porphyromonas gingivalis, que causa a gengivite, denominada periodontite nas fases mais avançadas da infeção, foi identificada no cérebro dos pacientes, bem como um tipo de proteínas, tóxicas, produzidas pela bactéria. Também se identificou a relação entre a presença desta bactéria e o aumento da produção de beta-amilóide, que se agrupa, formando placas, bloqueando a comunicação entre os neurónios.
Por outro lado, substâncias que bloqueiam a ação destas toxinas travaram a degeneração cerebral em ratinhos doentes. “Este estudo apresenta evidência de que a Porphyromonas gingivalis e as toxinas que produz têm um papel determinante no desenvolvimento da doeça de Alzheimer, oferecendo um novo conceito para o tratamento da doença”, escrevem os autores do trabalho.
Aliás, no final do ano, espera-se que comecem a ser feitos os primeiros testes em pessoas, que permitirão avaliar se as moléculas que anulam o efeito da bactéria também resultam em humanos.
A comunidade médica mundial recebeu a notícia com grande otimismo. Até porque se estima que 44 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de demência. Um número que deverá continuar a crescer, à boleia do aumento da esperança de vida.
No entanto, persistem algumas dúvidas. Por exemplo, saber se a gengivite não é uma consequência em vez de uma causa da doença, uma vez que os pacientes de Alzheimer estão mais susceptíveis a processos inflamatórios. Também se questiona se a gengivite de que sofre a maioria dos doentes não será também o resultado de uma maior dificuldade em manter a higiene oral, em virtude da perda de capacidades.
Mesmo que não venha a ser demonstrada esta relação, já é bem conhecida a causa-efeito entre a periodontite e problemas vasculares e entre esta infeção e a endocardite (infeção da camada interior do coração).
Sinais de gengivite:
– Sangramento recorrente ao lavar os dentes
– Mau hálito
– Gengivas inchadas
Como prevenir:
– Manter uma boa higiene oral
– Ir ao dentista com frequência
– Evitar que se instale a placa bacteriana