O transplante de coração é a única solução médica de longo prazo para, por exemplo, os doentes com insuficiência cardíaca terminal e a falta de órgãos representa um enorme desafio para estes e outros casos, com milhares de pessoas em listas de espera e apenas uma pequena percentagem a conseguir o coração “novo”.
A investigação médica têm-se debruçado sobre alternativas viáveis e há décadas que decorrem experiências visando a transformação de porcos em dadores, dada a semelhança entre os seus órgãos e os nossos.
Em declarações à VISÃO, em 2016, João Ramalho Santos, investigador de células estaminais na Universidade de Coimbra, explicava que o grande problema está na chamada “edição do ADN”, em que um gene de porco é substituído por um gene humano. “Depois de feita, falta sempre mais qualquer coisa”, lamentava.
Agora, no entanto, os resultados promissores com novas técnicas, que triplicaram a taxa de sobrevivência de babuínos transplantados, sugerem que já faltou mais. Os investigadores alemães envolvidos no novo estudo, publicado na Nature, descrevem este avanço como “significativo”, um “enorme passo em direção ao uso clínico de corações de porcos dadores em pacientes humanos”.
Se o recorde anterior de sobrevivência de um babuíno a depender de um transplante de coração para sobreviver estava nos 57 dias após a operação (945 dias no caso dos babuínos com corações ainda funcionais), a equipa da Universidade Ludwig Maximillian de Munique, liderada por Bruno Reichart, conseguiu estender esse prazo para, pelo menos 90 dias. Foi o caso de quatro dos cinco primatas que chegaram à fase final do estudo (do total de 16 usados na experiência), enquanto o outro chegou com saúde aos 195 dias depois do transplante do coração de porco geneticamente modificado.
Além do uso de imunossupressores para evitar a rejeição, os investigadores descobriram que o processo tradicional de conservação no frio dos corações para transplante danificava os tecidos e optaram, então, pela administração intermitente de uma solução oxigenada que continha hormonas. Neste caso, os animais que receberam o coração morreram em 40 dias devido ao crescimento rápido e exagerado do órgão. O maior sucesso foi verificado no grupo de babuínos que foram medicados de forma a controlar a proliferação das células e, assim, impedir, o crescimento do coração depois do transplante.