Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que existem cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo com Alzheimer e outras formas de demência, e que a grande maioria é mulher.
Foi precisamente a pensar nelas que, durante uma conferência internacional sobre o alzheimer, em Chicago, cientistas revelaram que a análise da história reprodutiva das mulheres pode dar informações importantes relativamente ao risco de desenvolver a doença.
Os investigadores utilizaram dados de mais de 14 mil membros da Kaiser Permanente, consórcio americano de cuidado integrado em saúde, e analisaram a história reprodutiva de mulheres com idades entre os 40 e 55 anos, membros entre 1964 e 1973 e que continuaram a ser membros entre 1996 e 2017.
O estudo revelou que as mulheres com três ou mais filhos tinham um risco 12% menor de terem demência quando fossem mais velhas do que aquelas que tinham menos filhos. Além disso, os investigadores descobriram que as mulheres que tiveram a menarca depois dos 16 anos tinham um risco 31% maior de virem a ter a doença do que as que tinham iniciado o seu ciclo menstrual aos 13 anos de idade.
Já as mulheres que entraram na menopausa aos 45 anos ou antes tinham 45% mais de probabilidade de ter demência no futuro do que as que deixaram de menstruar depois dessa idade.
Também se verificou que, nas mulheres que relataram ter sofrido um aborto espontâneo, o risco de ter a doença aumentava 8%. Uma mulher que tivesse tido três ou mais abortos tinha mais 47% de probabilidade de ter demência.
Paula Gilsanz, investigadora na Kaiser Permanente e autora do estudo, diz que os resultados podem estar ligados à acumulação de estrogénio durante a gravidez, principalmente durante o primeiro trimestre, que pode proteger as mulheres da doença.
Mas segundo um outro estudo – apresentado também na conferência internacional – realizado por investigadores da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, as alterações no sistema imunitário principalmente no primeiro trimestre da gravidez, também têm impacto positivo na diminuição do risco de demência – nas grávidas, principalmente nos primeiros três meses de gravidez, há um amento da produção de linfócitos T, um conjunto de glóbulos brancos que são responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos. Este tipo de células, que impedem que o corpo rejeite o feto, continuam a aumentar no organismo das mulheres mesmo após a gravidez. Sabe-se que os doentes com Alzheimer têm menos células deste tipo.
O número de primeiros trimestres acumulados de gravidez é associado, também, a um menor risco de se vir a ter demência, mas em relação ao número de terceiros trimestres, os efeitos já não foram significativos. Os resultados mostraram que as mulheres que tiveram mais 20% de primeiros trimestres que as outras tinham menos 30% de risco de ter Alzheimer, enquanto que a acumulação de terceiros trimestres não teve efeito aparente no risco de se ter a doença.
O estudo teve por base a história reprodutiva – incluindo nascimentos e abortos – de mais de 100 mulheres britânicas entre os 70 e os 100 anos, metade delas com Alzheimer. As conclusões foram claras: as mulheres que tinham passado mais 3% do tempo grávidas do que outras idênticas tinham 5,5% de risco de terem Alzheimer; já uma mulher que tinha passado mais 12,5% do tempo grávida tinha um risco 20% menor.
Um outro estudo apresentado na conferência, e realizado por cientistas da Universidade de Illinois, em Chicago, explicou as diferenças no diagnóstico da doença de Alzheimer entre homens e mulheres. Ao analisarem imagens cerebrais de 764 mulheres e 941 homens, os investigadores perceberam que a saúde mental das mulheres tende a declinar mais rapidamente do que os homens após o diagnóstico.