A Organização Mundial de Saúde preconiza que os bebés sejam alimentados exclusivamente com leite materno até aos seis meses e que só a partir dessa etapa se comece a diversificação alimentar.
O que o novo estudo, publicado no JAMA Pediatrics, diz é que, pelo contrário, a introdução dos sólidos aos três meses, mantendo a amamentação, pode ajudar os bebés a dormir melhor e a ser mais saudáveis a longo prazo.
Com renovação das diretrizes sobre a alimentação infantil marcada para a próxima semana, os investigadores alertam que esta é a altura para alterar as recomendações atuais.
Os argumentos, até aqui, para adiar até aos seis meses a introdução de alimentos como o puré de legumes, fruta ou a papa eram as vantagens do aleitamento materno exclusivo e também a suspeita de que a introdução precoce de outros alimentos aumentaria o risco de alergias, embora um estudo anterior já tenha provado que, pelo contrário, a exposição aos alérgenos induz a tolerância
O regresso ao trabalho das mães por volta dos cinco/seis meses, no entanto, dita, pelo menos em Portugal, que muitos bebés iniciem a segunda etapa da sua alimentação perto dos quatro meses, de forma a que o hábito dos sólidos esteja estabelecido antes do ingresso no infantário ou da entrega a outros cuidadores. A juntar a esta pressão temporal, ainda é frequente a convicção, ente os pais, de a ingestão de alimentos mais sólidos reduz o número de vezes que o bebé acorda de noite com fome, ideia quase sempre refutada pelos profissionais.
Os investigadores do King’s College e da Universidade de St George, em Londres, no entanto, concluíram que os sólidos aumentam efetivamente o número de horas de sono e reduzem a frequência dos despertares noturnos. Melhorar a qualidade do sono, por seu turno, defendem os especialistas envolvidos, traz benefícios para a saúde a longo prazo, reduzindo o risco de obesidade e diabetes.
Para os pais, esses, os benefícios são óbvios: melhor sono também e consequentemente, melhor qualidade de vida e melhor saúde mental.
“Os resultados desta investigação dão razão à opinião parental generalizada de que a introdução precoce dos sólidos melhora o sono”, sublinha Gideon Lack, que liderou a investigação. “Apesar de a orientação oficial dizer que começar os alimentos sólidos não vai fazer os bebés dormir mais à noite, este estudo sugere que este conselho precisa de ser reexaminado à luz das provas que reunimos”, concluiu.
Os investigadores realçam que a amamentação deve prolongar-se, pelo menos, até aos seis meses, mesmo neste caso e que cada bebé é um bebé, sendo que os que se engasgam com frequência com o leite poderão beneficiar de adiar os sólidos.
Para o estudo, foram seguidos 1300 bebés que só ingeriram leite materno até aos três meses. Metade dos bebés começou depois, gradualmente, a receber alimentos sólidos, enquanto a outra metade continuou exclusivamente com o leite materno até aos seis meses. Resultado: o primeiro grupo dormiu mais 16,6 minutos e acordou 13% menos durante a noite do que o segundo. E para os investigadores, a explicação é simples: não acordaram com fome. Os benefícios prolongaram-se e com um ano de idade, os mesmos bebés continuavam a dormir melhor.
“Descobrimos um pequeno mas significativo aumento da duração do sono e menos despertares de noite. Uma vez que o sono dos filhos afeta diretamente a qualidade de vida dos pais, mesmo uma pequena melhoria pode ter benfícios importantes”, acredita Michael Perkin, da Universidade de St. George.