Um novo estudo, que “levanta mais perguntas do que respostas”, nas palavras do seu principal autor, revela que quando um adolescente é atingido na cabeça, o seu cérebro pode começar a manifestar sinais de danos associados a doenças degenerativas dentro de apenas alguns dias.
As conclusões desta investigação, publicada no dia 1, indicam ainda que os danos podem ocorrer mesmo que a pancada não resulte numa concussão muito evidente.
A Encefalopatia Traumática Crónica, também conhecida como demência pugilística, é uma doença degenerativa ligada a consecutivas pancadas na cabeça.
O que este novo estudo quis avaliar foi como e com que velocidade estes traumas tão frequentes em desportos que implicam contacto, como os de combate ou o rugby, contribuem para a doença. Para isso, analisaram os cérebros, disponíveis na Universidade de Boston, de quatro atletas adolescentes, que tinham morrido dias ou semanas depois de uma lesão na cabeça durante um jogo. Destes, dois tinham cometido suicídio. Os outros dois morreram na sequência de um inchaço no cérebro provavelmente relacionado com a chamada “síndrome do segundo impacto (quando alguém sofre duas lesões da cabeça num curto espaço de tempo).
“Nenhum dos impactos individuais era grave o suficiente para provocar a morte”, explica Lee Goldstein, professor de psiquiatria na Boston University School of Medicine e principal autor do estudo. Mas quando observaram mais profundamente os cérebros dos jovens, os investigadores fizeram uma descoberta: danos no sistema de defesa do cérebro que impede a entrada de substâncias nocivas e pequenas fugas em vários pequenos vasos sanguíneos.
Dois dos cérebros tinham uma acumulação significativa de proteínas tau junto a esses vasos e um terceiro apresentava já Encefalopatia Traumática Crónica num grau diagnosticável.
Esta observação não chegava, no entanto, para concluir que os danos cerebrais se deviam àqueles impactos na cabeça que ocorreram pouco antes dos óbitos (podiam ter causas genéticas ou ter origem em pancadas anteriores), pelo que os cientistas decidiram continuar a investigar, desta feita com recurso a animais.
A ratos jovens, aplicaram choques de intensidade não muito forte, concebidos para resultar num movimento súbito e rápido das suas cabeças, semelhante ao que acontece numa situação real na prática desportiva. Alguns animais não tardaram a mostrar sinais equivalente a uma concussão: desequilíbro e mau desempenho em testes de memória. Os investigadores prosseguiram, então, com a injeção de uma espécie de tintura que não poderia passar uma barreira protetora do cérebro saudável. Em cerca de metade dos ratos, no entanto, a tintura passou mesmo para o cérebro dos roedores e muitos deles mostraram também sinais de vasos sanguíneos com fugas e outros danos, enquanto outros apresentavam sinais precoces de acumulação da proteína tau. E isto tudo apenas dias depois dos impactos na cabeça.
Mas há mais uma conclusão relevante: É que os investigadores não encontraram uma relação direta entre os dados cerebrais e os sinais de concussão, pelo contrário: alguns tinham concussões sem ou com poucos danos cerebrais visíveis, enquanto outros sem sinais de concussão apresentavam sinais típicos de Encefalopatia Traumática Crónica, o que leva Goldstein a dizer que “provavelmente” a investigação “levantou mais perguntas do que aquelas a que respondeu”.
Entre as questões que ficam por esclarecer está se estes efeitos se replicam em humanos e se cérebros jovens e mais velhos reagem da mesma forma a lesões desta natureza.