Jogos de memória, como ter alguns segundos para memorizar uma imagem ou uma sucessão de imagens e frases, têm sido uma forma concensual de treinar o cérebro e até mesmo melhorar as capacidades de concentração e de trabalho.
No entanto, um novo estudo sobre memória e cognição, agora divulgado, aponta para a possibilidade de os exercícios de memória não só não serem úteis como poderem piorar ainda a nossa performance cerebral.
Esta ideia já tinha sido partilhada em outubro deste ano no site da Sociedade Britânica de psicologia com um artigo em que se concluía não existir nenhuma prova científica da utilidade do treino da memória.
O novo estudo, da autoria da investigadora Laura Matzen, foi realizado em Albuquerque, no Novo México, e envolveu a 86 participantes (homens e mulheres), com uma média de 37 anos de idade.
Na primeira semana do estudo, os participantes viram avaliada a sua capacidade de estudar várias dezenas de palavras de uma só vez e repeti-las mais tarde e também a sua capacidade de recordar sequências de símbolos, os seus significados e a ordem e localização das formas em cada imagem.
As três semanas seguintes foram passadas em treinos de memória. Parte dos participantes treinou a sua memória de curto prazo (fazer corresponder cartas iguais), uma outra parte do grupo treinou a memoria fotográfica e os restantes não foram submetidos a qualquer treino.
No final, os testes foram repetidos por todos e foi-lhes perguntado que tipo de estratégias usaram durante as semanas anteriores para irem melhorando as suas performances nos testes de palavras e imagens.
Nos testes finais o que se verificou foi que em relação a prestação inicial, o grupo que não foi “treinado” teve uma prestação final semelhante à inicial; No grupo que treinou a memória visual e fotográfica verificaram-se melhorias e o grupo que treinou a sua memória de curto prazo piorou a sua prestação.
A explicação podes estar nas estratégias de cada participante. Os que treinaram a sua memória de curto prazo reportaram métodos mais simples e de repetição mental, como quem decora – o que perde eficiência quando falamos de estudar e recordar dezenas de palavras. Ou seja, segundo os responsáveis pelo estudo, talvez o treino deste tipo de memória desencoraje estratégias eficazes e encoraje a dependência de processos básicos de memória.