O nosso sotaque é uma forma de identidade clara. Identifica-nos em relação a todas as pessoas de outros países e até de outras regiões que não a nossa. Mesmo que não saibamos falar, conseguimos distinguir um francês de um alemão ou um grego de um espanhol.
O que agora parece claro é que já nascemos com sotaque – aprendemo-lo nos últimos meses de gestação.
Kathleen Wermke, professora de Antropologia linguística na Universidade de Würzburg, na Alemanha, é a responsável do estudo que serviu de base a estas conclusões.
Foram analisados os padrões de choro, ao nível do ritmo e da melodia, de 30 bebés franceses e 30 bebés alemães, todos saudáveis e todos de famílias monolingues.
Os resultados das variações e métricas sonoras foram incrivelmente diferentes para bebés franceses e alemães. Os franceses produziram choros com uma melodia crescente enquanto os alemães tenteram a produzir contornos sonoros decrescentes (passam de tons agudos para tons graves). A métrica discursiva dos seus idiomas influencia muito o choro e suspeita-se que a aprendizagem pela via vocal pode ter por base algumas predisposições biológicas.
As investigações concluíram ainda que estas pautas sonoras são absorvidas no último trimestre da gravidez, dão o mote para o tom do choro e para a língua que depois vão aprender.
Segundo a investigadora, “os fetos só conseguem perceber o ritmo da sua mãe e copiam o seu sotaque”. Por isso, mesmo antes de falarem, o choro de um bebé francês é diferente de um alemão e muito diferente de um japonês ou de um angolano.
Os bebés asiáticos e os bebés africanos têm um choro mais melódico, como se fosse mais cantado, porque, nas suas línguas, os tons graves e agudos determinam o significado das palavras.
Este verão, as investigações continuaram na mesma linha e descobriram que, por comparação, os bebés camaronenses choram durante mais tempo e com muito mais variações de tom do que os bebés alemães.
A ciência vem agora provar que os pais que com frequência falam diretamente para os seus filhos na barriga também podem influenciar o seu tom vocal. Embora seja mais difícil, embora no útero só se ouça verdadeiramente bem a mãe, os bebés também podem ser influenciados por sons exteriores, como a voz do pai.
O choro diz já tanto sobre os bebés que chega a ser possível detetar problemas de linguagem mesmo antes de os bebés dizerem a sua primeira palavra. No entanto, os fatores sociais e de aprendizagem vão pesar muito no desenvolvimento vocal de todas as crianças e não está nada previamente decidido, como garante a investigadora Kathleen Wermke.