Todos o sabemos: manter uma relação feliz e saudável não é pera doce. Enquanto as coisas ainda estão frescas, tudo parece maravilhoso. Mas com o tempo, chegam as coisas sérias: as bagagens emocionais, as capacidades de encaixe, os conflitos, algumas mágoas e, nalguns casos, o aborrecimento.
Com base nesta dificuldade, a ciência decidiu intervir. Existem cada vez mais dados científicos relativos aos hábitos e comportamentos “exemplares” a adotar dentro de uma relação para a manter de boa saúde. E de forma muito sucinta, resumem-se a estes três: mostrar empatia, ser positivo e manter uma forte conexão emocional. Parece simples, certo?
Manter uma conexão emocional forte
Sue Johnson é psicóloga clínica em Ottawa, no Canadá, e autora de vários livros. Ficou conhecida pelo seu trabalho no campo das relações interpessoais e intraconjugais. Segundo acredita, “o segredo para relações amorosas e para as manter fortes e vibrantes ao longo dos anos; para se apaixonar outra e outra vez, é a responsividade emocional”.
Esta responsividade tem a ver com a capacidade do casal de estar em “sincronicidade emocional e com estar sintonizado” na mesma frequência de emoções. “Todos os casais têm diferenças”, afirma a especialista. “O que torna os casais infelizes é quanto têm uma desconexão emocional e não conseguem sentir-se seguros e confiantes um com o outro”.
As críticas e a rejeição têm um papel fulcral para esta desconexão. O nosso cérebro interpreta-as como sinais de perigo e tende a responder-lhes de forma defensiva. “Os casais devem aprender a conversar sobre sentimentos de forma a aproximar o outro”, recomenda Johnson. Um estudo de 2015 mostra ainda que manter uma relação forte e saudável com alguém que se ama ajuda os indivíduos a lidar melhor com o stress, quando expostos a situações com as quais não se sentem confortáveis.
Ser positivo
O descontrolo emocional pode facilmente ocorrer nas relações em que os casais não busquem ser positivos. Quem o diz é Carrie Cole, diretora de investigação do Gottman Institute, um centro de investigação americano especializado em questões matrimoniais. “Quando tal acontece, as pessoas sentem-se cada vez mais afastadas até já nem sequer se conhecerem uma à outra”, explica a especialista.
A organização chegou à conclusão que o que faz uma relação avançar de forma positiva são as “pequenas coisas frequentes”. Quer isto dizer que são os pequenos gestos e rotinas que, feitos frequentemente, transmitem energias positivas e valorização ao outro.
Um elogio todos os dias – seja por algo que o cônjuge tenha feito ou por uma característica inerente – por exemplo, é suficiente para dar validação ao parceiro e o fazer sentir-se bem consigo mesmo. Desta forma, tanto quem recebe o elogio se fica a sentir bem, como quem o dá é relembrado dos motivos que o levaram a escolher a outra pessoa para companheiro de vida.
Mostrar empatia
Nas relações saudáveis, os membros do casal tentam empatizar e perceber a perspetiva um do outro, em vez de quererem sempre a razão do seu lado quando discutem. O truque consiste em controlar o stress, o orgulho e os picos de raiva e, segundo a antropóloga biológica Helen Fisher, “manter a boca calada e não fazer uma cena”. Se vir que não o consegue fazer, faça uma pausa e vá até ao ginásio ou leia um livro, faça alguma coisa que o impeça de explodir e ingressar numa ação destrutiva para a relação.
Outra coisa importante é não guardar rancor do seu parceiro. O rancor fará com que esteja constantemente a lembrar-se dos aspetos negativos do seu parceiro ou da relação, e não o permitirá concentrar-se nas coisas positivas. Segundo Fisher, “nenhum parceiro é perfeito, e o cérebro está bem construído o suficiente para se lembrar das coisas desagradáveis que foram ditas. Mas se conseguir ver por cima dessas coisas e focar-se no que é importante, far-lhe-á bem ao corpo, à mente e à relação”.
Uma relação feliz traduz-se numa vida feliz
Segundo um estudo da Harvard Medical School, da Universidade de Harvard, em Boston, EUA, existem três principais componentes químicos que o cérebro liberta quando somos lembrados da pessoa que amamos: a dopamina, associada à sensação de prazer e satisfação; a oxitocina, ligada à empatia e à generosidade; e o cortisol, que prepara o corpo para o stress de estar na presença da pessoa amada.
Contudo, à medida que o amor evolui e amadurece, o cortisol vai dando lugar a serotonina, uma hormona inibidora do stress e da depressão. Por outras palavras, o stress vai progressivamente dando lugar ao bem-estar e à tranquilidade, à medida que o casal aprende a conviver com base nestes três não-tão-simples passos.
Segundo Johnson, as boas relações não são apenas aquelas que são sempre boas e felizes, mas aquelas em que, face às dificuldades, o casal aprende a trabalhar em equipa para as manter harmoniosas e saudáveis. “Todos os clichés acerca de como o amor nos faz mais fortes não são apenas clichés, são fisiologia. Estar ligados a pessoas que nos amam e valorizam é o nosso único porto seguro na vida”, conclui.