No dia 16 de março, o Planetário de Lisboa recebeu a primeira sessão gratuita do Iastro Júnior 2019. Quem lá esteve, pôde deixar perguntas aos cientistas que nos levaram nestas «Aventuras no Espaço». Como o prometido é devido, aqui estão as respostas.
Quem descobriu Titã?
Manuel Rebelo, 11 anos
O físico, matemático, astrónomo e inventor holandês Christiaan Huygens (14 de abril de 1629 – 8 de julho de 1695) descobriu Titã a 25 de março de 1655, por acaso, enquanto observava os anéis de Saturno. Além das suas importantes contribuições para a Física teórica e estudo do sistema saturniano, Huygens também inventou o relógio de pêndulo.
Qual é a composição de Titã?
Manuel Rebelo, 11 anos
Pensa-se que no interior de Titã existe um núcleo rochoso, coberto por um oceano de água líquida. A crosta é constituída por gelo de água. À superfície existem lagos de metano e etano e extensas dunas compostas por matéria orgânica. Na atmosfera existem azoto (98,4%) e metano (1,4%), mas também aerossóis (partículas sólidas ou líquidas em suspensão no ar), as quais originam a cor alaranjada de Titã.
A superfície de Titã, na foto que foi tirada pela sonda, era amarela. Porquê?
Leonor Algarvio, 12 anos
A luz branca do Sol pode ser decomposta em várias cores, como acontece por vezes quando surge no céu um arco-íris, com cores que vão do vermelho/laranja até ao azul/violeta. A foto da superfície de Titã aparece alaranjada devido à forte absorção das cores azul/violeta por parte dos aerossóis na atmosfera de Titã. Mas como, por outro lado, estas partículas em suspensão no ar deixam passar o vermelho/laranja, estas acabam por ser as cores que os nossos olhos conseguem detetar.
De onde vem a água de Titã?
Gabriel Ribeiro, 10 anos
Durante a formação do Sistema Solar havia, na nuvem de gases e poeiras inicial, oxigénio e hidrogénio em abundância. O oxigénio é muito reativo e liga-se com facilidade ao hidrogénio, formando água (H2O). Esta congela para distâncias ao Sol superiores à de Júpiter. Por isso, encontramos gelo de água na maior parte dos satélites do Sistema Solar exterior (que inclui todos os objetos para lá da Cintura de Asteroides).
Como é que se pode medir a profundidade dos lagos em Titã?
Catarina Fernandes de Oliveira, 9 anos
A profundidade foi medida usando o instrumento RADAR da sonda Cassini, que emitiu uma onda de rádio na direção dos lagos. Sabendo a velocidade da onda (aproximadamente 300 mil quilómetros por segundo) e medindo o tempo que esta demorou a voltar à sonda após ser refletida no fundo do lago – o eco –, encontrou-se a profundidade dos lagos. O maior valor obtido foi de cerca de 170 metros.
(Quem respondeu a estas perguntas foi Alberto Negrão, Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Instituto Politécnico de Leiria)
Porque razão a temperatura à noite em Marte fica -60º C se, durante o dia, pode atingir os 20º C?
Catarina Fernandes de Oliveira, 9 anos
Tal como na Terra, o lado noturno de Marte recebe menos radiação solar e a atmosfera tende a arrefecer, sendo de esperar uma temperatura mais baixa durante a noite do que durante o dia. Na Terra, esta diferença de temperatura não é tão grande devido à existência de oceanos e de uma atmosfera mais densa, que permitem que parte da energia vinda do Sol fique retida na Terra e seja distribuída entre os lados noturno e diurno e entre o Equador (que recebe mais energia) e os Pólos (que recebem menos).
Já alguma sonda aterrou em Neptuno ou em Úrano?
Mafalda Miguel e Afonso Miguel, 10 anos
Ainda não aterrou nenhuma sonda em Neptuno ou Úrano mas a Agência Espacial Europeia (ESA) tem mostrado interesse ultimamente em propostas de missões a estes longínquos planetas.
Quando foi inaugurada a primeira nave espacial?
Gabriel Ribeiro, 10 anos
A primeira nave espacial chamava-se Venera 1 e foi lançada numa missão a Vénus a 12 de fevereiro de 1961. Não foi um grande sucesso pois o contacto com a Terra foi perdido a 19 de fevereiro, muito antes de chegar ao planeta.
Pode existir vida noutros sistemas?
Manuel Rebelo, 11 anos
Até agora, os cientistas não descobriram evidência científica de vida fora da Terra. Contudo, sabemos hoje que existem planetas à volta da maioria das estrelas, por isso, temos de considerar essa hipótese. A pesquisa de vida fora da Terra é um tema muito popular atualmente e faz parte de uma área de investigação científica chamada Astrobiologia.
Poderíamos levar «corpos com vida» microscópicos para outros planetas, para que se começasse a formar oxigénio?
Carolina Penim de Matos, 14 anos
Em termos éticos, antes de pensarmos em alterar as condições de outros planetas temos de garantir que estes não albergam nenhuma forma de vida, por mais simples que seja. Em planetas estéreis, ou seja, sem vida, a alteração das condições ambientais de modo a torná-los compatíveis com a nossa forma de vida, a chamada Terraformação, é uma possibilidade teórica no horizonte da tecnologia e da ciência.
Quais os gases necessários para a vida?
Manuel Rebelo, 11 anos
Assumindo a vida como a conhecemos (pois poderão haver formas de vida noutros planetas baseadas em compostos e reações químicas diferentes), o oxigénio é essencial para muitos organismos (como nós) produzirem energia através de um processo chamado respiração. De forma semelhante, as plantas e algas não vivem sem dióxido de carbono, um gás essencial para a fotossíntese. O azoto (que constitui 78% da nossa atmosfera) também é indispensável, pois todos os seres vivos têm azoto na sua composição. Existe ainda o metano, o dióxido de enxofre e de azoto e o vapor de água, gases responsáveis por manterem a temperatura do nosso planeta estável através do efeito de estufa, e o ozono, que nos protege dos raios ultravioleta (UV) emitidos pelo Sol.
As alterações climáticas podem dar vida noutros planetas?
Manuel Rebelo, 11 anos
Sim, foi isso que aconteceu na Terra. No início da sua formação, a Terra não tinha condições compatíveis com a vida. Foram as suas alterações ao longo do tempo, por exemplo, a formação de uma atmosfera, rica em oxigénio e com capacidade para nos proteger da radiação e manter uma temperatura estável no planeta, que permitiram a existência de vida. Por outro lado, pensa-se que Vénus, num passado distante, teve condições ambientais semelhantes à Terra mas, com o tempo, o efeito de estufa levou à perda da água e a um aumento da temperatura tão elevado que até o chumbo derreteria na sua superfície. Também sabemos que Marte, num passado distante, teve grandes quantidades de água líquida na sua superfície.
(Quem respondeu a estas perguntas foi Pedro Machado, Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)
Já tentaram explorar outras vias lácteas?
Gabriel Ribeiro, 10 anos
Claro! Temos muitas galáxias com forma espiral ao nosso redor, e muitas delas com uma quantidade de estrelas similar à nossa Via Láctea. Há muitas perguntas que queremos fazer a estas galáxias. São semelhantes à nossa? Também têm vida? E vida inteligente? Será que possuem companheiras como as Nuvens de Magalhães e a galáxia de Andrómeda como acontece na Via Láctea? E serão esses companheiros indispensáveis para que aconteçam os mesmos fenómenos que ocorrem na nossa galáxia? Têm também halos de estrelas ao seu redor e matéria escura?… Há tanta coisa interessante no nosso Universo!
Qual é a maior galáxia já descoberta do Universo?
Carolina Penim de Matos, 14 anos
Chama-se IC1101, e encontra-se no centro do enxame de galáxias Abell 2029, a uma distância 350 vezes maior do que da nossa vizinha mais próxima, a galáxia de Andrómeda. IC1101 é uma bola de estrelas gigantesca – há pessoas que lhe chamam galáxia elíptica pela sua forma – de cor vermelha e tão grande que a nossa galáxia, a Via Láctea, caberia 17000 vezes dentro dela! No nosso Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço estamos a estudar se ela possuí no seu interior o maior buraco negro do Universo.
(Quem respondeu a estas perguntas foi Fernando Buitrago, Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)
Como se formam os átomos do Sol?
Afonso Santos Marques, 10 anos
A maior parte dos átomos do Sol são de hidrogénio e hélio, que se formaram logo poucos minutos depois do Big Bang. Mas, como em todas as estrelas, dentro do Sol esses átomos vão-se juntando e transformando em novos átomos: o Sol é uma gigantesca fábrica de átomos novos.
A que propósito nasceu o Universo?
Alfredo Bidarra, 9 anos
Ainda não sabemos como é que foi o nascimento do Universo há 13 800 milhões de anos, ou mesmo se havia alguma outra coisa antes deste Universo nascer. Quando soubermos, então talvez se possa estudar se o Universo teve um propósito ou se nasceu só por acaso!
(Quem respondeu a estas perguntas foi Tiago Barreiro, Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)