Há muito tempo que os cientistas sabem que ao olhar para os anéis das árvores se pode perceber se o ano foi de seca ou de abundância – maiores quando chove, menores quando falta água. Quase como um detetive a analisar a cena de um crime, os climatologistas estudam o tronco das árvores, à procura de pistas sobre o clima do passado. E assim consegue-se hoje em dia saber se choveu muito ou pouco, há centenas de anos, quando ainda não havia registos de temperatura e pluviosidade.
Agora, um estudo internacional, publicado na Nature Plants, que envolveu vários países, entre eles Portugal, mostrou que a análise aos anéis das árvores também pode ajudar a perceber melhor o ciclo das alterações climáticas, em particular a absorção de carbono.
“Numa primeira fase, o anel cresce em volume. Numa segunda fase, em biomassa [quantidade de carbono]”, explica Cristina Nabais, professora da Universidade de Coimbra e coordenadora da participação portuguesa do trabalho que envolveu países do norte da Europa, China, Rússia, Espanha e França.
Todas as semanas, os investigadores dos vários países retiraram microcilindros do tronco das árvores – em Portugal, o trabalho de campo decorreu num pinhal na Tocha, concelho de Cantanhede – e analisaram a parede celular. Quanto mais espessa, maior a quantidade de carbono absorvida. Pela comparação dos dados das várias equipas, concluiu-se que no Mediterrâneo, onde a temperatura é mais elevada, as árvores captam carbono durante mais tempo do que na Europa do Norte. Dito de outra forma, estas plantas, de locais quentes, são mais eficazes a absorver o CO2 do ar do que as que crescem em sítios mais frios. “Podemos pensar que há um ajustamento ao aumento da temperatura», conclui a professora do Departamento de Ciências da Vida. Deixando, no entanto, o alerta: «há um limite à capacidade de absorção.”