Sabes quem é o Papa. Sim, é o chefe da Igreja Católica, aquele senhor vestido de branco que diz coisas que as pessoas escutam com atenção acerca do que se está a passar no mundo. O Papa atual é o papa Francisco, mas antes dele já tinha havido outros 265, pois a História da Igreja tem mais de 2 mil anos. Tudo bem. Agora imagina um elefante a andar com aquela passo lento e pesadão que é o dos elefantes, a encher a tromba com água e a borrifar um Papa com quanto fôlego tinha. Que escândalo, pensarás tu.
O que é que fizeram ao desgraçado do elefante depois disto? Pois olha, nada de especial. Pelo contrário, as pessoas que estavam a assistir até acharam graça, aplaudiram e um poeta escreveu uns versos que tiveram grande sucesso. Ah, e essas pessoas não eram inimigas do Papa, e o próprio Papa achou graça (ou pelo menos fingiu que sim). Estranho, não é? Então o melhor é contar a história do princípio, para se perceber. Antes de tudo, isto passou-se em Roma (que é onde moram os Papas) no dia 12 de março de 1514. O Papa da altura chamava-se Leão X.
Quando Portugal era rico
Nesses primeiros anos do século XVI, Portugal e os estados italianos (sim, porque a Itália apenas se uniria num único país em 1870) eram os países da Europa onde a pompa e o luxo eram mais visíveis. A Itália percebe-se bem porquê: estava cheia de artistas de enorme talento (Leonardo da Vinci e Miguel Ângelo, por exemplo, mas havia muitos mais) e esses grandes pintores e escultores eram pagos por príncipes que gostavam imenso das artes e tinham muito dinheiro para lhes pagar. Foi a época do Renascimento, que se seguiu à Idade Média, esse tempo em que o mundo, sob vários aspetos, era um bocado mais triste.

Bom, isto era em Itália? E Portugal? Porque é que havia luxo em Portugal? Ora, porque os portugueses tinham descoberto pouco antes o caminho marítimo para a Índia e todos os anos esquadras de navios iam lá ao Oriente buscar coisas raras na Europa – por exemplo, especiarias como o cravinho, a noz moscada ou a pimenta – que vendiam por aqui a bom preço.
E então é assim: para mostrar ao Papa que Portugal não ficava atrás dos estados italianos, o nosso rei D. Manuel I resolveu enviar uma embaixada à corte de Leão X, lá em Roma. Dá-se o nome de embaixada a uma representação junto de um governo estrangeiro. Ainda hoje há embaixadas dos países nas capitais uns dos outros. Neste caso, a tal embaixada era um grande grupo de pessoas (e não só, como verás), carregadas de riquezas e de presentes.
Uma pantera à solta
Quando os portugueses chegaram a Roma formou-se um imponente cortejo constituído por centenas de cavaleiros e de peões (um peão é uma pessoa que vai a pé) enfeitados com joias, bordados, chapéus deslumbrantes e coisas deste género. Do desfile fazia parte um cavalo da Pérsia montado por um caçador de Ormuz, e na garupa deste repousava, de olhos semicerrados – imagina tu o quê! – uma pantera ameaçadora. Muita gente recuou de medo e houve gritos, mas vá lá que o felino não ligou.
Mas a parte mais exótica do desfile era um elefante de Ceilão com guarnições de ouro, transportando no dorso um belo cofre, oferta do rei português ao Papa. O cornaca (cornaca é o nome que se dá ao condutor de um elefante, e que vai sentado na cabeça do animal) era um indiano ricamente vestido e fazendo gestos considerados muito esquisitos por nós, ocidentais. Entretanto tocavam os sinos da cidade e a artilharia disparava salvas.
O papa Leão X, rodeado dos cardeais, esperava o cortejo no alto de uma varanda. E foi então que o elefante mergulhou a tromba num grande vaso cheio de água perfumada que ali tinha sido posto, encheu-a e borrifou por três vezes o Papa e quem se encontrava ao pé dele. Não sabemos se Leão X terá gostado mesmo, mas pelo menos fingiu que sim, que tinha apreciado. Claro que aquilo fazia parte do espetáculo e o elefante tinha sido ensinado. Uma gracinha…