“Estas são duas perguntas para as quais não tenho respostas simples”, começa por alertar o epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. “Em relação às máscaras, as recomendações vão no sentido de que só devem ser usadas por crianças com mais de 2 anos. Antes disso, não a sabem usar adequadamente”, explica. Claro que esta é uma indicação geral, uma vez que todas as crianças são diferentes, como os pais bem sabem, pelo que será importante explicar aos mais novos porque têm de usar máscara e os cuidados a ter.
Que máscaras são aconselhadas?
Devem ser mais pequenas do que as dos adultos, para se ajustarem corretamente ao rosto. “Penso que não existem máscaras cirúrgicas em tamanhos pediátricos, pelo que a melhor opção será uma máscara comunitária certificada”, aconselha.
Neste momento, existem vários tipos à venda, mas para ter a certeza de que está a comprar um produto certificado, poderá consultar a Lista de Máscaras Comunitárias Aprovadas do Citeve, em atualização permanente.
Devem usá-las sempre?
Aqui não há dúvidas, diz-nos o especialista: “As máscaras devem ser usadas pelas crianças sempre que saem de casa para espaços onde terão interação com outras pessoas: seja na rua, lojas ou transportes públicos, por exemplo.” Se vão dar um passeio a pé ou de bicicleta pela natureza, num local mais isolado, poderão retirá-la, mas com precauções. “Basta que a usem no caminho até ao seu destino”, explica. “Se fazem o percurso no carro de família, devem usá-la na rua e tirá-la no carro. Quando chegarem ao local do passeio, se não se cruzarem com outras pessoas, podem andar sem máscara.”
O regresso às creche e às escolas
Muitas famílias preparam-se para levar novamente as crianças para a creche, de forma a retomarem a sua atividade profissional. A sua reabertura, assim como o início das aulas presenciais para os alunos dos 11º e 12º anos, está marcada para 18 de maio, mas há quem se sinta inseguro em relação a este regresso.
“Todos nós sabemos que as crianças que frequentam as creches contraem doenças frequentemente devido à interação próxima que têm umas com as outras. Temos, por isso, de perceber que é possível que a doença se possa disseminar entre elas”, admite o epidemiologista. “Mas a verdade é que apresentam sintomas mais leves da doença, pelo que o maior problema poderá ser os mais novos levarem-na para casa.” Nesse sentido, alerta, “os pais têm de ter mais cautela, respeitando as regras de distanciamento, de higiene das mãos e de etiqueta respiratória”.
Ricardo Mexia acrescenta que, apesar de alguns estudos apontarem no sentido de o nível de transmissão da Covid-19 ser baixo, ou até inexistente, quando as crianças apresentam esses sintomas ligeiros, ainda não existem certezas. “Resumindo: não sabendo, devemos tomar todas as precauções.”
“Os pais devem ter uma atitude pedagógica”
No caso dos adolescentes que vão voltar a ter aulas presenciais, o especialista mostra-se otimista. “Eu diria que aos 15 ou 16 anos, os jovens já são perfeitamente capazes de seguir as regras de segurança”, justifica. “Por outro lado, também sabemos que os adolescentes gostam de quebrar as regras… Os pais devem ter uma atitude pedagógica, explicar-lhes que os jovens não estão totalmente isentos de risco e que, acima de tudo, ao não cumprir as recomendações estão a pôr os outros em risco.”

Os abraços aos avós vão ter de esperar
Terminado o confinamento, muitas famílias anseiam pelo reencontro de avós e netos. Ambos têm sofrido com a distância, e a vontade de abraçar e dar mimo é muita. Contudo, o melhor é ser cuidadoso. Mais uma vez, sublinha Ricardo Mexia, porque “ainda não sabemos que capacidade as crianças têm de transmitir a doença.”
“Podemos visitar os avós? Dar-lhes um abraço?”, perguntam os mais novos. “Não tenho uma resposta simples para estas perguntas”, lamenta. “Cada família terá de fazer uma avaliação individual. No caso de se tratarem de pessoas com doenças como diabetes, hipertensão ou de foro oncológico, esse contacto não será recomendável. Por outro lado, se os avós ainda são pessoas ativas, com empregos nos quais estão expostos a terceiros, penso que não faz muito sentido retirar-lhes o contacto familiar.”
Portanto, no que toca a visitas, se as fizer, siga à risca as recomendações de segurança. Quanto a abraços, “o melhor, por agora, é evitá-los.” Pai de três crianças, o epidemiologista reconhece que este é um ponto sensível. Os seus filhos também não veem os avós há dois meses, mas sabe que não deve baixar a guarda. “Até sabermos para que lado a crise vai, temos de ter precauções. E devemos explicar às crianças o motivo para este comportamento tão diferente do que tínhamos há uns meses. Elas podem ser boas aliadas. Aliás, já o foram no passado, em áreas diferentes como a sensibilização para a poupança da água ou a necessidade de reciclar”.
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