O cabo Lince encontrava-se na plataforma da estação à hora da chegada do comboio que vinha de Lisboa. Reparou no ar agitado de um passageiro que acabara de se apear e que passou por ele rapidamente. Daí a pouco, o chefe da estação chamava Lince:
– Já que o sr. cabo está por cá, gostava que ouvisse a história deste passageiro que veio queixar-se de um roubo…
– Sim fui roubado! – exclamou o passageiro. – Roubaram-me a mala no comboio. Vinha passar o mês de dezembro muito sossegado aqui na serra, sem carro nem computador, e logo me aconteceu isto… Exijo uma indemnização!
Lince olhou para o homem dos pés à cabeça, recomendou-lhe que se acalmasse e pediu-lhe que contasse a história toda. Ele assim fez.
– Chamo-me João Vigário e moro em Santarém. A carruagem vinha quase vazia, mas depois foram entrando e sentando-se perto de mim dois homens, um rapazola e uma senhora de idade. Começámos a conversar uns com os outros. Vieram também todos aqui para a serra. Às tantas, um dos senhores convidou-me para tomar um café no bar e estivemos por lá meia hora a dar à língua. É engraçado, porque ele também morava em Vila Franca. Quando voltámos para os lugares, as duas senhoras já lá não estavam. Não reparei que a minha mala tinha sido roubada. Adormeci, e quando acordei, já perto daqui, vi-me sozinho e sem a mala.
O cabo Lince disse:
– Se quiser, participe do roubo, mas não vale a pena…
– Essa é boa! Porquê? – disse Vigário com ar surpreendido.
– Porque se o que vai participar é o que me contou, garanto-lhe que não há de ir longe…
– Explique-se melhor, sr. cabo! – gritou Vigário, um pouco exaltado.
O cabo Lince explicou então, pausadamente:
– O que o sr. Vigário me contou foi um conto da carochinha! Isso faz-me pensar que ninguém lhe roubou mala nenhuma e que a sua ideia é receber uma indemnização sem a merecer.
A fúria de João Vigário desapareceu logo.
E, humildemente, girou nos calcanhares, cumprimentou com um aceno da cabeça o cabo Lince e o chefe da estação e afastou-se de cabeça baixa.
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