O cabo Lince entrou no jipe, meteu a primeira, acendeu os médios e lá foi estrada fora, a caminho da sede da empresa Lacticínios Leite & Pires, Lda. Minutos antes recebera de lá uma chamada telefónica muito angustiada de alguém que não se identificara mas que lhe pedira para se deslocar ali o mais depressa possível.
O edifício, baixo mas muito comprido, situado na encosta da serra, mais parecia um armazém. Um homem esperava-o à porta, no escuro, a roer as unhas.
– Fui eu que lhe telefonei, sr. cabo. Chamo-me Alvarino. Roubaram o dinheiro todo!
– Conte lá a história desde o princípio – pediu Lince enquanto saía do jipe e fechava a porta.
– Estamos no fim do mês – começou Alvarino Branco – e esta noite tive de trabalhar até tarde, porque os pagamentos aos empregados vão ser feitos depois de amanhã. Ou melhor, iam ser feitos… Como estava sozinho no escritório, acendi só o candeeiro da minha secretária. Ai que desgraça!
– Vá lá, continue – pediu Lince.
– Aí por volta das 11 e meia – prosseguiu Alvarino – quando já pensava em ir para casa, ouvi passos no corredor e vi avançar o facho de luz de uma lanterna elétrica. Apaguei o candeeiro da secretária e fiquei muito quieto às escuras. Os passos estavam cada vez mais perto. Por sorte, passou nesse momento na estrada um camião que fez um barulho dos diabos. Peguei então no telefone e marquei o número do posto da GNR. E lá consegui dizer, com voz abafada: «Socorro! Lacticínios Leite & Branco! Depressa!» Mas o homem misterioso, que tinha uma mascarilha na cara, aproximou-se de mim, de lanterna na mão esquerda e pistola na mão direita, pousou a lanterna na mesa, meteu a mão no cofre e tirou de lá todos os maços de notas, que enfiou no bolso. Esperei uns minutinhos e só depois é que acendi a luz.
– Então, não telefonou do telemóvel.
– Não. Esqueci-me dele em casa.
– E que número marcou?
– O do posto, claro. Sei-o de cor: 27536708421.
Lince pensou uns segundos, passou a mão pelo queixo e disse:
– Desconfio que o dinheiro roubado está no sítio onde o senhor o escondeu, ou então… nos bolsos do seu blusão. Vista-o e venha comigo ao posto, para isto ficar esclarecido.
Porque desconfiou o cabo Lince de Alvarino? Eis a solução deste enigma.