Duas palmas seguidas. É o que basta fazer o professor Pedro Gonçalves para chamar os alunos, dos 6 aos 14 anos, que até àquele momento conversam, correm, riem, dão saltos pelo pavilhão multiusos do CIF, em Lisboa. Esta aula de karaté da Escola UKL União de Karaté de Lisboa, vai começar. E, de repente…silêncio.
Sentados em círculo, os alunos ouvem o professor ou Sensei, como se diz em japonês. O karaté nasceu na ilha de Okinawa, no Japão, por isso as palavras utilizadas nas aulas são nesta língua. Mas não te preocupes: os professores explicam tudo em português! Karaté significa «mãos vazias», isto porque um karateca (ou seja, quem pratica este desporto) não utiliza armas, só o seu próprio corpo e a sua inteligência.
A um sinal do Sensei os alunos levantam-se para a saudação inicial.
É o Reiho que se divide em Za-rei, saudação de joelhos, e Ritsu-rei, uma saudação de pé. Os alunos fi cam depois em linha, desde o mais avançado (à direita) ao menos avançado (à esquerda). Estas diferenças percebem-se pela cor do cinto (ver caixa Os cinturões).
Manuel Barosa, 6 anos, cinto branco-amarelo, é o último da linha: «Comecei a praticar há um ano. Gosto muito. Tenho muito para aprender.» Gabriel Correia, 10 anos, começou com 6: «O karaté faz-me sentir confiante em mim mesmo.
Gosto dos movimentos que me ajudam com a postura e o equilíbrio e assim quando for mais velho não sou corcunda», diz a rir.
Os alunos estão a treinar para a competição de karaté que se divide em Kata e Kumite. Kata é uma representação de um combate com vários adversários imaginários.
Kumite é um combate com um adversário real.
«Eu gosto mais do Kumite. Tem mais ação, mais liberdade», afirma Francisco Alves, 13 anos, no karaté desde os 6. «Fiz um contrato com a minha mãe: eu queria futebol, ela queria karaté. Inscrevi-me nos dois. Hoje estou só no karaté. O ambiente é muito bom, os professores são fixes e os amigos que se fazem também.» «O karaté ajudou-me a crescer, a ganhar mais concentração. Tenho aulas mas, ao mesmo tempo, posso conviver com os meus amigos», diz Pedro Carvalho, 10 anos, praticante desde os 4.
A idade certa para começar é, precisamente, a partir dos 4 ou 5 anos e não é preciso ter nenhuma característica especial. «Só vontade de experimentar », diz Sofia Boto, 8 anos.
A única rapariga nesta aula começou a treinar com 5 anos: «Adoro! Ensina a defender-me, a concentrar-me.» «Para mim, karaté é saber defender–me e não atacar. Recomendo a toda a gente», diz António Rei, 9 anos.
Manuel Costa, 9 anos, cinto laranja-verde, reforça a recomendação e acrescenta: «O tempo passa e é sempre giro. Vamos aprendendo novos movimentos e isso é fantástico.»
O que é o karaté?
«Uma arte marcial, um desporto de competição, uma forma eficaz de defesa pessoal», explica o prof. Pedro Gonçalves, 43 anos. Baseia-se em seis princípios importantes:
1 – Etiqueta, ou seja, boa educação
2 – Respeito, pelos outros e por ti próprio
3 – Perseverança, que é como quem diz, nunca desistir
4 – Esforço, acabas as aulas a transpirar a sério!
5 – Criatividade, a imaginação é fundamental
6 – Coragem, para enfrentar os desafios
Uma ‘Kata’…
As Katas são uma sequência de gestos de defesa e ataque com uma ordem própria. Quanto mais se evolui, mais difíceis ficam. E, ao contrário do Kumite, não são dirigidas a um adversário real, mas sim imaginário.
Na posição inicial Musubi-dachi a executar Naotte
Age-uke (defesa alta) na posição Zenkutsu–dachi
Gyaku-zuki (ataque com braço contrário da perna) em Zenkutsu–dachi
Gedan-barai (defesa baixa) na posição Shiko-dachi
Na transição de posição e preparação de defesa
Ude-uke (defesa média) na posição Nekoashi-dachi
Texto: Francisca Cunha Rêgo
Fotos: Mário João Mendes