Da próxima vez que saíres de casa e achares que tens frio, estás enganado! Comparado com o que se passa em alguns países do mundo, neste momento, o clima aqui está quase tropical. Pelo menos é assim que as pessoas que vivem perto dos polos deveriam pensar, quando de manhã olhassem para os nossos termómetros e vissem que estão mais de zero graus centígrados.
Calça dois pares de meias em cima das meias que calçaste, enfia um gorro pela cabeça abaixo e não te esqueças das luvas porque daqui em diante o termómetro vai descer, descer, descer!…
Bem-vindo a Oymyakon
Este é o nome da vila mais fria do mundo, onde as temperaturas são muito pouco saudáveis, a menos que sejas feito de gelado de morango ou um boneco de neve! É de Oymyakon, na Sibéria, Rússia, o recorde da temperatura mais baixa do hemisfério norte: 71,2 graus negativos. Fresquinho, não achas?
Na verdade, as menos de 500 pessoas que vivem nesta localidade não têm uma vida muito simples. Esquece tudo o que viste de maravilhoso no filme Frozen: Reino do Gelo, da Disney! A realidade é bem mais complicada. De outubro a abril, em Oymyakon a terra está permanentemente congelada, por isso não existe qualquer possibilidade de cultivar uma alface ou feijão.
Não gostas de alface, nem de feijão? Não faz mal? Pois é, também não há melancias, nem morangos, nem cerejas! Não há nada que sirva de alimento que venha do reino vegetal, a menos que estejamos dispostos a comer pinheiros. Desses ainda há alguns, mais alguma vegetação rasteira que consegue sobreviver às temperaturas inferiores a 40 e 50 graus negativos dos invernos polares desta região.
Ai, a minha caneta congelou!
Quando por cá neva toda a noite, as estradas ficam cortadas e as escolas fecham. Nada disso acontece nesta vila da Rússia. Como as estradas estão sempre com neve, os transportes já estão preparados antecipadamente para resistirem até aos 50 graus negativos, pois a partir dessa temperatura o gasóleo começa a congelar e, sem combustível, tudo fica parado.
Para contornar a situação, os habitantes deste frigorífico deixam os automóveis a trabalhar todo o dia, pois assim os combustíveis não correm o risco de congelarem e é a forma de garantir transporte, mesmo que nem seja preciso. A água começa a congelar a partir dos zero graus. Imagina como fica tudo quando a temperatura desce a pique!
As escolas, essas, só fecham se as temperaturas chegarem aos 50 graus negativos. A tinta das esferográficas congela. Os computadores e as impressoras sofrem de males semelhantes: se forem ligados em salas pouco aquecidas deixam de funcionar corretamente, tal como os telemóveis e outros equipamentos eletrónicos. Internet e rede móvel? Não há!
Um prato cheio de rena?
Em Oymyakon só existe uma loja e ali vende-se um pouco de tudo. Para compras mais elaboradas, nada como ir até à cidade de Yakutsk, que fica ali pertinho. Isto é, se alguém estiver disposto a fazer uma viagem de dois dias.
Por isso, a alimentação baseia-se em grande parte naquilo que os habitantes desta vila russa conseguem caçar. E é assim que aos seus pratos chega a carne de rena, animal que serve como alimento base, assim como o leite e o peixe. Tudo o resto tem de ser encomendado antecipadamente e pode demorar semanas a chegar.
Morrer não é fácil…
Morrer em Oymyakon dá imenso trabalho, por isso mais vale continuar a viver! Mas quando se morre as cerimónias fúnebres podem durar dias e dias. Se a terra está congelada não há pá, enxada ou picareta que a consiga escavar. Então acendem-se fogueiras em cima do local que se pretende cavar para descongelar. E então vem o coveiro e cava mais um bocadinho.
E acende-se de novo a fogueira com carvão, a terra descongela mais um pouco e o coveiro volta a cavar. Três dias depois, o buraco está terminado e o funeral poderá ser concluído. Isto se a terra retirada da cova não tiver congelado toda novamente, o que é bastante provável…
É frio, já percebemos
Se viajares até este lugar remoto vais deparar-te com uma paisagem praticamente vazia de pessoas. A gente que ali vive raramente sai à rua, e quando sai é a correr de uns edifícios para os outros, ou de dentro do veículo que não desligam para dentro da loja ou da escola.
Os agasalhos que toda a gente usa são extremamente impermeáveis para não absorverem a humidade da neve e conseguem conservar o calor do corpo em temperaturas saudáveis. Mas o frio é tanto e a neve é imensa que as pessoas vestem uma, duas e três camadas de roupa, ficando quase sem se poderem mexer.
Em meados de 1920, Oymyakon estabeleceu-se como um ponto de paragem para os pastores de renas, devido a uma fonte de água termal que ali existe, e desde então a localidade começou a crescer.
Nunca cresceu muito porque, com temperaturas médias de inverno a rondarem os 40 e os 50 graus negativos e com dias de três horas de luz e noites de 22 horas, a vida é uma verdadeira aventura.
Brrr, que frio!
A pele, o maior órgão das pessoas, forra todo o teu corpo por fora. Ela é a responsável por manter a temperatura do corpo nos 37 graus centígrados. O teu corpo é muito inteligente. Sabe que a sua temperatura ideal manterá todas as suas células a funcionar de uma forma saudável. A pele regula-se com a ajuda do nosso termómetro interno do cérebro que se chama hipotálamo.
Quando está frio, os vasos sanguíneos contraem-se para manterem o sangue mais quente, evitando que fiques gelado. Nestas alturas, e quando te arrepias, até podes sentir uns altinhos na superfície da pele (pele de galinha), que deixam os pelos em pé. Se dilatam, começas a arrefecer com a ajuda do suor.
Obrigado pele!
Este artigo foi originalmente publicado na VISÃO Júnior nº 140