Quando andava de caiaque ou passeava pela praia perto de sua casa, em West Cork, na Irlanda, Fionn Ferreira, agora com 21 anos, via cada vez mais objetos de plástico na areia e no mar. Começou a participar em limpezas da praia, mas percebeu que era difícil apanhar os pedaços mais pequeninos, por isso, como sempre gostara de inventar engenhocas, pegou no seu Lego e tentou criar um robô que o ajudasse, mas a sua invenção não funcionou.
Até que teve uma ideia, ao ver numa rocha uns bocados de plástico colados a uma mancha de óleo. Assim, com 16 anos começou a estudar uma maneira de recolher microplásticos (pedaços com menos de cinco milímetros de diâmetro) da água de uma forma simples e segura. Quando falou aos amigos da sua ideia, «acharam que eu era maluco», conta à VISÃO Júnior, «mas os meus pais ajudaram-me, porque eles também são criativos e gostam de construir coisas».

No seu quarto, pesquisou, construiu engenhocas, fez centenas de experiências e acabou por criar uma invenção que lhe valeu o primeiro prémio na Feira de Ciência da Google, em 2019. «O meu método é simples», explica-nos, entusiasmado. «Usa uma mistura de óleo vegetal, daquele que usamos na cozinha, e um pó magnético, que normalmente chamamos “ferrugem”.
Ao misturar os dois, conseguimos um líquido muito fixe, o ferrofluido, que funciona como um íman. O que eu fiz foi conseguir que os microplásticos se fixassem nesse líquido e, dessa forma, retirá-los da água.» Dito assim, até parece fácil mas, para o conseguir, ele precisou de muitas horas de trabalho. E nem sempre correu bem. Entre outros aparelhos, construiu um espectrómetro caseiro [usado para medir a concentração de microplásticos na água].

«Numa das vezes, quando o liguei à corrente, todas as luzes da minha cidade se apagaram! Parecia mesmo um cientista maluco», ri-se. «Não contei aos meus pais.» Pudera, já tinha estragado a máquina de lavar roupa com as suas experiências… Agora estuda na universidade e trabalha num protótipo que espera terminar no final do ano.
O objetivo é que alguma empresa o queira produzir e, a partir daí, este possa ser usado em todo o mundo. Se calhar até em tua casa! «Se aplicarmos este aparelho numa máquina de lavar roupa, conseguimos evitar que as fibras do vestuário (que também são microplásticos) sejam levadas pela água e cheguem ao mar», explica.
Mas Fionn deixa um alerta: «Com o meu método, conseguimos evitar que os microplásticos cheguem ao oceano, mas não há método nenhum capaz de retirar os que já lá estão. Por isso, a única maneira que temos de proteger a vida marinha é parar de fazer dos oceanos uma lixeira e sermos mais cuidadosos com o que consumimos e produzimos.»
Há dois anos, a invenção de Fionn ganhou o primeiro prémio na Feira de Ciência da Google, destinada a estudantes, entre os 13 e os 18 anos. Participaram 100 jovens de todo o mundo, mas foi Fionn quem levou para casa 45 mil euros: «Este prémio mudou a minha vida», disse à VISÃO Júnior.
FIONN FERREIRA

Herdou o apelido
Ferreira do pai,
português, Rui.
A mãe chama-se
Anke Eckardt e é
alemã.
No ano passado,
venceu a Feira de
Ciência da Google,
destinada a jovens
cientistas.
Está no 1º ano
de Química, na
Universidade de
Groninger (Países
Baixos).
A FAMÍLIA PORTUGUESA
Fionn é irlandês, mas tem raízes portuguesas. O pai, Rui Ferreira, cresceu no Barreiro e muita da sua família ainda vive em Azeitão e em Lisboa. «Gosto muito de Portugal, onde costumo ir duas vezes por ano. Quando aí estou, treino a língua, mas ainda não consigo falar sobre Ciência em português. Falo mais de comida!», diz, a rir-se. Para Fionn, a família é muito importante e ele sempre contou com o seu apoio. «O meu pai é construtor de barcos. Aprendi com ele, e com a minha mãe, o gosto de construir coisas. Eles são muito criativos. A minha mãe, por exemplo, constrói kits em miniatura para as pessoas montarem.»