Burburinho. Muito burburinho. O nervosismo e o entusiasmo pairam no ar. Os alunos vão-se concentrando à entrada da Escola Básica 2/3 Luís Sttau Monteiro, em Loures. É o primeiro dia de aulas.
Entre as muitas cabeças que espreitam para dentro do portão está Mónica, que tem 10 anos. Sente-se “ansiosa e um pouco nervosa”. Como muitos meninos por todo o país, vai pela primeira vez para o 5º ano.”Até agora, andei sempre na mesma escola”, conta. “Estou nervosa por conhecer a escola nova”.
Já Tomás, que também tem 10 anos e se encontra na mesma situação, não se mostra minimamente assustado. “Estou entusiasmado”, revela.

Os alunos concentram-se à entrada da E.B.2/3 Sttau Monteiro
Ao longe, os alunos do 9º ano olham com atenção os novos colegas que chegam à escola. Eles ainda não sabem, mas vão ser estes os seus padrinhos e madrinhas ao longo do ano letivo.
Não, não estamos a falar daqueles padrinhos que os pais escolhem para nós quando ainda somos pequeninos e que depois só vemos no Natal ou no nosso aniversário. Os padrinhos da escola são alunos mais velhos. A função deles é acolher os alunos do 5º ano e ajudá-los a integrarem-se na nova escola.
“Muitos estudantes vêm de escolas pequenas e depois chegam aqui e sentem-se perdidos ou intimidados com a presença dos mais velhos”, explica a diretora da escola, Maria Manuel Andrade.
Foi exatamente por isso que a escola decidiu criar o projeto 9-5, em que os alunos do 9º ano apadrinham os do 5º e tornam-se numa espécie de “guias” para eles na escola.

Os alunos do 9º ano fazem uma visita guiada pela escola
Em muitos sítios, há o hábito de “praxar” os novos alunos, fazendo-lhes “maldades” como pinturas na cara, por exemplo, mas não nesta escola. “Aqui não fazemos praxe, é mais tudo “na descontra”, explica Rita, 14 anos.
Rita e Catarina são alunas do 9º ano e, a partir de agora, madrinhas da turma do 5ºA. Quando a diretora de turma lhes falou do projeto de apadrinhamento, não pensaram duas vezes e voluntariaram-se logo!
“É uma forma dos alunos mais velhos conviverem com os mais novos”, diz Catarina, 14 anos. “Alguém mais ou menos da idade deles, que consegue perceber o que eles estão a sentir e ajudá-los para que não tenham os mesmos problemas que nós tivemos”, completa Rita.
As duas alunas confessam que adoravam ter tido um padrinho quando chegaram à escola no 5º ano. “Lembro-me que estava muito nervosa e que tinha medo dos alunos mais velhos porque, se calhar, na nossa mente, tornamos a escola dos mais cresidos num monstro de sete cabeças”, conta Catarina.

A madrinha Catarina apresenta o refeitório
Derrotar o monstro das sete cabeças
Feitas as apresentações, é com uma visita guiada que as madrinhas iniciam os afilhados na escola. Explicam-lhes que devem passar sempre o cartão à entrada e onde se devem dirigir se alguma vez se magoarem… Trocam-se muitos olhares no momento em que as madrinhas avisam que podem ter de partilhar o cacifo com outros colegas. Uns já se conheciam, outros não.
Quando as madrinhas apresentam o refeitório, há espaço para as perguntas verdadeiramente importantes. “E se nós não quisermos salada?”. “E se quisermos mais dois douradinhos?”.
Aos poucos, a turma vai perdendo a vergonha e, ao final da manhã, já está tudo descontraído e a falar, sem problemas, tanto com os colegas como com as madrinhas.
“Agora voltamos a ser os mais novos outra vez. Na outra escola éramos os mais velhos. Temos de nos habituar”, comenta Afonso, 10 anos

A turma do 5ºA com os padrinhos e madrinhas
“Espero que eles confiem em nós e que se sintam à vontade para falar connosco, para que possamos ajudá-los a ter uma estadia melhor nesta escola”, diz Rita. Do outro lado, a resposta é positiva. “Acho que elas vão ser boas companheiras”, afirma Mónica. “Às vezes os mais velhos gostam de se impôr à força. Como elas já vão ser nossas amigas, não vão fazer isso”, diz Afonso.
Muitos alunos, muitos professores, muitas disciplinas, um horário diferente todos os dias,… A nova escola é um desafio, mas nada amedronta estes alunos, agora que contam com a ajuda dos padrinhos.