Arqueólogos encontraram um sarcófago de chumbo sob a catedral de Notre Dame, juntamente com fragmentos de um coro alto, alguns túmulos e elementos de esculturas durante os trabalhos de reconstrução do monumento parcialmente destruído no incêndio de 2019.
A descoberta foi feita por uma equipa do Instituto Nacional de Pesquisas Arqueológicas Preventivas a pedido do DRAC Île-de-France (serviço regional de arqueologia) como uma medida preventiva antes de serem colocados os andaimes de cerca de 100 metros de altura necessários à restauração da catedral.
A descoberta de “notável qualidade científica” inclui um “um sarcófago de chumbo antropomórfico (em forma de homem) totalmente preservado”, várias sepulturas e “elementos esculpidos” que, ao que tudo indica, parecem datar ao século XIV, segundo um comunicado do ministério da cultura francês à Agence France-Presse (AFP).
As escavações estão a ser feitas na zona central do monumento, onde o transepto cruza a nave, e foi ao testar a estabilidade do solo que a equipa de arqueólogos encontrou um sistema de aquecimento subterrâneo que datava ao século XIX e que escondia, entre condutas de tijolo, o sarcófago e os outros objetos .
O ministério informou que os achados históricos foram encontrados sob uma camada do piso da igreja que remete ao século XVIII. As primeiras fundações foram construídas em 1163 pelo Papa Alexandre III, e a estrutura gótica original foi construída no século seguinte.
O sarcófago feito de chumbo data, segundo os arqueólogos, ao século XIV e acredita-se que, “tendo em conta as suas características e localização”, possa pertencer a um “alto dignitário”. A equipa de escavação já se ocupou de explorar o interior do enigmático sarcófago, deformado pelo peso da terra e pedras, recorrendo, para isso, a uma minicâmara.
“Podemos ver pedaços de tecido, cabelo e uma almofada de folhas no topo da cabeça, um ritual bem conhecido quando líderes religiosos eram enterrados, O facto desses elementos ainda estarem ali dentro significa que o corpo está em muito bom estado de conservação”, afirmou Christophe Besnier, arqueólogo principal, em resposta à Reuters.
Além do sarcófago, foi descoberto também um coro alto – elemento de pedra ou madeira habitual em catedrais e mosteiros que tem como objetivo separar o espaço destinado aos sacerdotes e monges do resto da igreja – adornado com figuras esculpidas que foram identificadas como sendo parte de uma tela original do século XIII, cujos únicos fragmentos até então descobertos estão em exposição no Louvre. Algumas as figuras mantiveram vestígios de tinta que contam a história de uma realidade com 800 anos.
A descoberta vem trazer, segundo o testemunho Dominique Garcia, do Instituto Nacional de Pesquisas Arqueológicas à AFP, uma nova visão à compreensão das práticas funerárias na Idade Média assim como à própria história da catedral, um marco importante do passado de Paris.
As escavações tiveram início no dia 2 de fevereiro e serão estendidas até 25 de março “de forma a explorar plenamente o seu potencial”, explicou o comunicado. O fim da reconstrução da catedral, por sua vez, tem data marcada para 2024, altura em que deve reabrir.
O incêndio em Notre Dame aconteceu a 15 de abril de 2019 e, embora as duas torres icónicas da catedral tenham sido salvas, o telhado de madeira do monumento sofreu muitos danos. O projeto de restauração da catedral arrecadou cerca de mil milhões de euros em doações segundo o ex-ministro da cultura francês, Franck Riester e será concluído no mesmo ano em que o país irá receber na sua capital os Jogos Olímpicos.