A desinformação sobre as alterações climáticas está a aumentar de forma preocupante no Facebook. O alerta é dado, esta quinta-feira, por um relatório levado a cabo pelo observatório independente The Real Facebook Oversight Group e pela organização não-governamental ambientalista Stop Funding Heat, que dá conta que este fenómeno “aumenta substancialmente” e que a rede social criada por Mark Zuckerberg está entre os maiores fornecedores mundiais de desinformação climática.
Através da avaliação via CrowdTangle (ferramenta de análise do Facebook), foram examinadas mais de 195 páginas e grupos que partilham informações erradas e falsas sobre as alterações climáticas na rede social, propagando a desinformação sobre o tema. Ao todo, diz o site da ONG, as 48.700 publicações compiladas e avaliadas tiveram, em média, entre 818 mil a 1,36 milhões de visualizações diárias. Somente 3,6% das informações incorretas identificadas no relatório foram alvo de fact-check (verificação de factos).
Ao The Guardian, Sean Buchan, investigador e membro da Stop Funding Heat, diz que o problema é exacerbado pela forma desigual como o Facebook modera o seu conteúdo em todo o mundo.
Escalada de desinformação
O relatório revela ainda que foram detetadas 13,6 vezes mais visualizações de desinformação do que o próprio Facebook afirma enviar para o seu Centro de Informação de Ciência do Clima, criado em setembro do ano passado. Na prática, só em 2020, a interação (gosto, reação, partilha ou comentário) por publicação com conteúdos falsos sobre o clima aumentou 76,7%.
Do total de páginas e grupos avaliados, continua o The Guardian, 41 foram considerados de “emissão única”, ou seja, com um único assunto (neste caso, a inexistência de alterações climáticas). Com nomes que, por si só, espelham o ceticismo face às alterações climáticas – como As Alterações Climáticas são Naturais ou As Alterações Climáticas são Lixo -, as páginas e grupos difusores de desinformação partilharam principalmente memes (imagem, vídeo ou outro conteúdo de carácter paródico ou humorístico) que negam a existência de alterações climáticas e desprezam os políticos que colocam o clima no centro das atenções e prioridades. No entanto, anuncia ainda o relatório, na análise feita foi também possível encontrar páginas de figuras políticas que usam as redes sociais para propagar desinformação sobre o clima, como é o caso de Marjorie Taylor Greene, republicana americana.
Segundo o relatório, a desinformação que circula na rede social é em grande parte impulsionada por um pequeno número de fontes, independentemente do tema – se clima ou saúde, por exemplo. Foram detetados 113 anúncios de desinformação climática na Ad Library do Facebook entre janeiro e outubro de 2021, sendo que “78% dos gastos estimados com esses anúncios” vieram dessas mesmas sete páginas, “que já foram sinalizadas há um ano num relatório anterior”, lê-se no relatório. Segundo o The Guardian, a rede social já tinha recusado remover as páginas em questão.