Na sequência da Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, várias ONG juntaram-se para fazer aquilo que os governos do mundo não conseguiram: criar uma forma de proteger as florestas e travar a desflorestação. Nasceu assim o Forest Stewardship Council (FSC), para promover uma gestão florestal responsável, certificando matéria-prima com origem em florestas sustentáveis – separar o trigo do joio. Em 2007, entrou em Portugal, pela mão da WWF.
“A certificação assenta em três pilares: ecológico, económico e social”, descreve Joana Faria, diretora-executiva da FSC Portugal, na conversa da VISÃO VERDE desta semana. “Promovemos uma gestão ambientalmente adequada, socialmente benéfica e economicamente viável das florestas em todo o mundo. Costumo dar o exemplo de um banco com três pés: se retirarmos um dos pés, o banco cai. Tão importante com o lado ambiental é o social, as condições dos trabalhadores.” E o lado económico ajuda a sustentar os outros dois.
De um modo geral, a floresta portuguesa não é bem gerida. “Portugal carece de uma gestão profissional mais adequada. As boas ferramentas, como a certificação, ainda são insuficientes. O FSC já abrange meio milhão de hectares, mas isto representa apenas 15% da área florestal.” Portugal não é um país fácil de trabalhar a este nível. “Temos grande potencial: somos dos países da Europa com mais área florestal”, mas “a pequena propriedade e o abandono do território são desafios muito grandes para a certificação florestal”. Mais de 7 milhões de propriedades e cerca de dois terços têm menos de um hectare.” A solução passa por gerir as propriedades em conjunto. “300 mil hectares são geridos em grupos. É fundamental que haja esta flexibilização do sistema.”
Mais resistente aos incêndios
A valorização da matéria-prima é, claro, a motivação para os proprietários aderirem à certificação – que passa por “melhorar a produtividade sem descurar a conservação”, diz Joana Faria. “A norma do FSC obriga a que pelo menos 10% da floresta seja para conservação. E temos uma política restritiva do uso de pesticidas.”
O mais importante, continua, “é olharmos para a floresta como um todo, sabendo que nos dá múltiplos produtos”. “Pensamos só na madeira, mas temos também a cortiça, frutos, mel… E dão-nos serviços de ecossistema, como a questão do armazenamento e sequestro do carbono, biodiversidade, proteção contra a erosão do solo… A qualidade da água que bebemos e do ar que respiramos é um benefício que a floresta nos dá.”
Há outra grande vantagem no caminho para a certificação. “São florestas mais resilientes aos incêndios. Em 2017, o incêndio em Góis foi extinto numa área certificada. As boas práticas implementadas serviram como barreira ao incêndio.”
No final, o consumidor premeia estas boas práticas, garante a diretora do FSC Portugal. “Está cada vez mais consciente. A pandemia veio trazer ainda mais essa consciência para a importância da floresta, porque se relacionou a pandemia com a invasão do ser humano no habitat florestal. O consumidor quer ter a certeza de que os produtos que compra não estão a contribuir para a desflorestação.”
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