Um novo estudo, publicado na revista científica Frontiers in Forests and Global Change, conclui que, avaliados todos os gases com efeito estufa libertados pela Amazónia, a grande floresta já se tornou um contribuinte líquido para o aquecimento global. A análise pretendia compreender de um modo mais profundo e mais abrangente de que forma os fenómenos naturais e antropogénicos estão a mudar a região e qual o impacto nas alterações climáticas.
Várias pesquisas ao longo dos anos têm sugerido que a desertificação, os incêndios e a desflorestação fizeram com que porções das florestas tropicais emitissem mais carbono do que aquele que consomem. Mas o CO2 não é o único fator que influencia o clima global. Muitas atividades libertam outros gases com efeito estufa, alguns mais potentes do que o dióxido de carbono, que até aqui têm estado de fora dos estudos.
“Cortar a floresta está a interferir com a absorção de carbono; isso é um problema”, explica à National Geographic o autor principal do estudo, Kristofer Covey, professor de Estudos Ambientais na Skidmore College, em Nova Yorque. “Quando se começa a olhar para estes outros fatores para lá do CO2” entende-se que a consequência é que a “Amazónia como um todo está realmente a aquecer o clima global”.
Por exemplo, as partículas libertadas nos incêndios – que em 2019 devastaram cerca de 24 mil quilómetros quadrados da floresta – absorvem a luz do sol, fazendo com que a temperatura aumente.
O óxido nitroso, produzido naturalmente, é emitido em maior quantidade devido à secagem dos pântanos e à compactação do solo, uma das consequências de exploração de madeira.
O metano, um gás cujo efeito estufa é de 28 a 86 vezes mais potente que o CO2, é produzido pelos micróbios que habitam na terra húmida, e libertado para a atmosfera através das árvores. A extração de recursos, a transformação da floresta para a agricultura, especialmente para a produção de soja, e para a pecuária são processos que fazem com que a floresta da Amazónia perca a sua capacidade de captar e armazenar o metano. A construção de barragens e as inundações também contribuem para a emissão de metano.
A desflorestação, por seu lado, altera os padrões naturais da chuva.
De floresta a savana?
Uma análise de Thomas E. Lovejoy e Carlos Nobre, ambos cientistas climáticos que trabalham com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia, sugere que o aumento da desflorestação pode alterar o fluxo da humidade a ponto de fazer com que grandes extensões da Amazónia se comecem as transformar em savana, reduzindo ainda mais o seu potencial de filtrar o ar.
A partir de 2010, a desflorestação na Amazónia começou a baixar muito significativamente, resultado de investimentos, medidas impostas pelos governos, ações de multinacionais e protestos dos ativistas. No entanto, esta descida não se observou durante muito tempo: entretanto, os níveis de desflorestação começaram a subir de novo (batendo um novo recorde em 2020). Se a área desflorestada ultrapassar os 20 a 25%, segundo Lovejoy e Nobre, a floresta pode colapsar totalmente.
Contudo, os investigadores dizem que ainda há tempo de reverter os danos causados. Travar a desflorestação, diminuir a construção de barragens e plantar árvores serão bons sítios para começar, ao mesmo tempo que limitamos as emissões dos combustíveis fósseis.