As empresas precisam, cada vez mais, de comunicar as suas práticas de sustentabilidade, impulsionadas por novos regulamentos e pela exigência de transparência por parte do público e dos investidores. Em junho de 2022, a União Europeia divulgou a Diretiva sobre Relatórios de Sustentabilidade Empresarial (CSRD), que exige que todas as grandes empresas (todas as empresas europeias cotadas e aquelas com mais de 250 empregados e mais de 40 milhões de euros de volume de negócios e/ou mais de 20 milhões de euros no total de ativos) certifiquem os seus relatórios de sustentabilidade e melhorem o acesso a essa informação. Nos EUA, uma nova regra sobre relatórios climáticos proposta pela Security and Exchange Commission (SEC) exige que as empresas cotadas na bolsa divulgassem informações detalhadas sobre emissões de gases com efeito de estufa, riscos relacionados com o clima e planos de transição para atingir objetivos net-zero.
Dada a crescente necessidade de relatórios e de transparência, as empresas em todo o mundo precisam de formular as suas estratégias de gestão de risco de sustentabilidade e os seus planos de execução. Na maioria das empresas os CEO e os CFO desempenham um papel importante na elaboração de relatórios sobre iniciativas de sustentabilidade.
Nesse sentido, propomos um plano de sete etapas que fornece orientações aos líderes empresariais sobre como se preparar para os requisitos de sustentabilidade nos EUA, Europa e outras partes do mundo.
Em primeiro lugar, a estratégia de sustentabilidade precisa de ter em conta toda a cadeia de valor: fornecedores, clientes, colaboradores, investidores e outros. A administração de uma empresa deve alinhar os seus objetivos estratégicos de sustentabilidade com a visão e estratégia global da empresa e trabalhar em conjunto com toda a equipa de liderança. Muitas empresas quererão reunir com o Conselho de Administração e discutir as implicações dos novos regulamentos de relatórios de sustentabilidade, para formularem uma estratégia de sustentabilidade que esteja alinhada com a estratégia empresarial.
Em segundo lugar, é muito importante definir o modelo operacional de sustentabilidade da empresa. Para que a hierarquia adote e implemente plenamente as estratégias de sustentabilidade definidas pela liderança executiva. As empresas podem criar um Gabinete Empresarial de Sustentabilidade (GES) para estabelecer o modelo operacional (pessoas, processo, e tecnologia), traduzir objetivos sustentáveis em iniciativas e projetos com resultados tangíveis. A empresa pode optar por criar um cargo de Chief Sustainability Officer (CSO) que trabalhe com o CEO, CFO e outros executivos de topo na implementação da estratégia de sustentabilidade da empresa. Um CSO pode definir o plano para a evolução da sustentabilidade de uma empresa, considerando o foco da empresa, as métricas da indústria, as oportunidades, o mercado e os seus desafios, a geografia e a evolução geral da transformação digital.
Em terceiro lugar, importa estabelecer um plano de relatórios e divulgação, relacionado com o clima. As empresas terão de estabelecer uma estrutura para identificar, recolher, analisar e comunicar informações sobre riscos relacionados com o clima e métricas de declarações financeiras relacionadas com o mesmo tema aos seus reguladores nacionais. As novas regras de divulgação relacionadas com o clima podem exigir que uma empresa divulgue informação sobre as suas emissões diretas de gases com efeito de estufa, emissões indiretas de eletricidade ou outras formas de energia adquiridas e emissões de gases com efeito de estufa de atividades upstream e downstream na sua cadeia de valor. O CFO pode desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento desta estrutura, ao trabalhar com o Conselho de Administração, Comissão de Auditoria, CEO, CSO e outros CXO.
Em quarto lugar, é fundamental definir o modelo de gestão do Conselho de Administração e do Comité de Auditoria. Uma vez que o novo relatório de sustentabilidade terá, provavelmente, que fazer parte do relatório anual dos acionistas da empresa, há bastantes desafios envolvidos em relatórios de sustentabilidade detalhados e precisos. O Conselho de Administração da empresa terá de monitorizar o progresso, os riscos e os desafios em torno da sua jornada sustentável. Dada a natureza sensível dos futuros regulamentos sobre relatórios de sustentabilidade, os dashboards com indicadores-chave de desempenho críticos devem fazer parte de um conjunto de ferramentas para uma supervisão eficaz. Os Conselhos de Administração poderão ter de tomar medidas corretivas se sentirem que a sua jornada de sustentabilidade está num caminho arriscado.
Em quinto lugar, devem ser estabelecidos objetivos e métricas de sustentabilidade. Para cumprir os objetivos do Acordo Climático de Paris, os países e organizações/empresas públicas e privadas precisam de se comprometer a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para metade, até 2030 – e chegar a net-zero até 2050. As empresas podem estabelecer metas de sustentabilidade (por exemplo: três, cinco, 10 e 15 anos) alinhando-se com iniciativas globais tais como a iniciativa Science Based Targets (SBTi). A SBTi avalia independentemente os objetivos de redução de emissões das empresas para garantir que estão em conformidade com a Ciência Climática. Normas de relatórios de sustentabilidade como o GHG Protocol podem fornecer orientação, ferramentas e formação na definição e medição de métricas de sustentabilidade. Por exemplo, a Amazon está a caminho de alimentar as suas operações com energia 100% renovável até 2025 – cinco anos antes do seu compromisso original de 2030. O Relatório Ambiental, Social e de Gestão feito pelo DoorDash 2021 é outro exemplo de relatório sobre as métricas de contabilização de carbono para as emissões de GEE dos âmbitos 1 e 2.
Em sexto lugar, é crucial fornecer tecnologias que facilitem os processos. Para enfrentar o desafio climático global, o mundo precisa de inovação rápida em tecnologias climáticas e digitais, e adoção de fontes de energia renováveis em todas as indústrias. Os Chief Technology Officers (CTO) e os Chief Information Officers (CIO) podem acelerar a adoção de TI sustentáveis, tais como as tecnologias na cloud, que podem enfrentar os duplos desafios da transformação digital e sustentável.
Por último, mas não menos importante, é essencial criar valor comercial. À medida que as empresas embarcam na jornada de transformação da sustentabilidade, podem descobrir novas oportunidades de transformação empresarial. Algumas companhias podem até repensar os seus modelos de negócio e gerar novas oportunidades de criação de valor. Os CXO precisam de colaborar como uma equipa de líderes para monitorizar o mercado, que está a constantemente a mudar e, ao mesmo tempo, procurar novas oportunidades.