O Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal faz hoje 21 anos. Membro da maior rede global de empresas em prol da sustentabilidade – o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) –, ele foi criado para ajudar a transformar a economia portuguesa em benefício das pessoas e do planeta. Hoje, 69 das 100 maiores economias do mundo são empresas. Assim, quer pelos seus impactes, quer pelo seu potencial de inovação e investimento, o setor privado tornou-se decisivo na resposta aos desafios da Humanidade e para o mundo que teremos amanhã.
Desde a sua génese, no início do século XX, que as empresas têm desempenhado um papel chave na consolidação das democracias liberais, tanto ao criarem riqueza e emprego, como ao pagarem impostos, com os quais o setor público promove o nosso bem-estar coletivo. Se há algo que as empresas aprenderam a fazer bem nos seus primeiros 100 anos de vida foi a ser eficientes na alocação de recursos e a promover a inovação, o que tem permitido taxas de crescimento ímpares na história da Humanidade. Só nos últimos 50 anos, o PIB global quase quintuplicou.
Porém, esta aceleração económica, que teve origem na Revolução Industrial, assente em combustíveis fósseis e na extração de recursos, ocorreu à custa de uma pressão insustentável sobre os limites e os equilíbrios da biosfera. Por semana, a população mundial aumenta 1,5 milhões de pessoas e mais de um milhão de pessoas ascende à classe média, e como e não se espera uma mudança súbita e em larga escala nos estilos de vida e expetativas de consumo, a pressão sobre a produção será cada vez maior. Também a nível social, a pobreza extrema tem vindo a diminuir, mas as desigualdades não param de aumentar.
Neste contexto de um modelo de desenvolvimento cada vez mais insustentável, compreende-se que as partes interessadas das empresas – clientes, investidores, trabalhadores e reguladores – sejam cada vez mais exigentes. É um sinal de esperança as novas gerações estarem cada vez mais empenhadas em fazer do consumo um ato de cidadania, isto é, em ter um impacte positivo nas pessoas e no planeta através das suas decisões de consumo, e cada vez menos disponíveis para empregos sem propósito, como o fenómeno denominado The Great Resignation ilustra bem.
Finalmente a integração dos fatores ESG (ambientais, sociais e de governance) nas cadeias de valor e modelos de negócio das empresas é considerada consensual e obrigatória: ela assegura a sua licença para operar, diminui o risco e melhora a sua competitividade. Para além disso, a transição para uma economia verde proporcionará novas oportunidades, assentes em novos modelos de negócio.
Para que oito ou nove mil milhões de pessoas possam viver bem na Terra (em 1820 eramos apenas mil milhões), impõem-se a transição rápida para uma economia verde global. Para tal, precisamos de inovação, de políticas públicas e que a economia se torne circular, isto é, que os seus inputs sejam tendencialmente bio e renováveis, e haja zero desperdício. Atualmente, a economia global é apenas 9,1% circular – já a natureza é 100% circular, uma vez que nada perde, tudo transforma. Por outro lado, a economia tem também de ser mais inclusiva e solidária.
Se não formos capazes dessa transição, jamais será possível alcançar o Acordo de Paris sobre o clima, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Agenda 2030 das Nações Unidas e o Pacto Ecológico Europeu. Portugal está bem posicionado e poderia ser um bom exemplo para o mundo, mas terá de acelerar. Obviamente, se coletivamente falharmos a metas estabelecidas até 2030 e 2050, ficaremos todos a perder – quando um avião cai, ninguém se salva.
Hoje sabemos que as empresas do futuro são as que forem capazes de criar valor partilhável, as que colocarem o propósito, as pessoas e o planeta à frente do lucro. Só assim seremos capazes de transformar o modo como produzimos, consumimos e vivemos. O BCSD Portugal foi criado para apoiar o setor privado nessa transição. Aos nossos membros e a todos os que connosco têm colaborado ao longo destes 21 anos, muito obrigado e parabéns.
