Os protetores solares são imprescindíveis para nos defender da radiação ultravioleta. Mas o que nos protege a nós não protege necessariamente outros seres vivos. Ao longo dos últimos anos, tem sido estudado o efeito em organismos marinhos de diferentes substâncias presentes nos cremes, e as notícias não são boas: vários destes químicos têm impactos destrutivos.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (dos EUA, mais conhecida pela sua sigla, NOAA), uma das entidades que mais se tem debruçado sobre estes efeitos, tem uma lista “oficial” de químicos com potencial para afetar a vida marinha: 3-benzilideno cânfora, 4-metilbenzilideno cânfora, octocryleno, benzofenona-1, 2 e 8, oxibenzona (também chamada benzofenona-3 ou BP-3), p-aminobenzoato de octilo dimetilo (OD-PABA), dióxido de nano-titânio, óxido de nano-zinco e octinoxato. Se se preocupa com os impactos ambientais das suas escolhas, leia a lista de ingredientes e evite estas substâncias.
Os efeitos mais negativos destes químicos são variados. Podem provocar uma redução de fertilidade nos peixes fêmeas, danificar os sistemas reprodutores e imunológicos dos ouriços-do-mar adultos e causar deformações nos juvenis (o que também acontece nos mexilhões), prejudicar o processo de fotossíntese das algas e acumularem-se nos tecidos dos golfinhos (e transmitirem-se para as crias). Os piores impactos, no entanto, são nos corais. As substâncias acumulam-se nos tecidos destes organismos e conseguem alterar o seu ADN, provocando deformidades e branqueamento (a principal causa de morte dos corais).
Algumas estão já interditas na União Europeia (o 3-benzilideno cânfora, por exemplo não pode ser usado em qualquer produto cosmético desde 2016). Mas outras continuam a ser usadas. Entre essas, as que levantam mais preocupações são a benzofenona-2, a oxibenzona e o octinoxato, ingredientes comuns nos protetores solares.
A primeiro, a benzofenona-2, presente em muitos tipos de cremes e sabonetes, mata jovens corais rapidamente e mesmo em baixas concentrações, de acordo com um estudo publicado em 2013 na revista científica Ecotoxicology. Além disso, provocada branqueamento e mutações nos organismos maduros. A oxibenzona tem os mesmos efeitos, a que se juntam deformidades no crescimento dos corais, segundo um estudo publicado na Archives of Environmental Contamination and Toxicology, em 2015. Outra investigação, publicada em 2008 na Environmental Health Perspectives, reportou que tanto a oxibenzona como o octinoxato eram responsáveis por fenómenos de branqueamento em recifes de coral nos três oceanos onde existem, o Atlântico, o Índico e o Pacífico.
Os protetores minerais podem ser uma forma de proteger a pele sem passar ingredientes nocivos para o mar (desde que tenham dióxido de titânio ou óxido de zinco não-nanotizados, ou seja, com pelo menos 100 nanómetros). Mas vários testes realizados pela organização de consumidores americana Consumer Reports concluíram que estes não são tão eficazes a proteger dos raios ultravioleta como os outros.
A alternativa é minimizar a quantidade de protetor que aplicamos. A NOAA sugere que, na praia, usemos camisolas com fator de proteção ultravioleta e que procuremos sempre a sombra, sobretudo nas horas mais críticas. Mesmo usar uma simples tshirt pode ser uma solução, já que deixa menos pele exposta ao sol.
E atenção – em alguns protetores solares, a lista de ingredientes surge em inglês. Nesse caso, procure por estes nomes, para (tentar) evitá-los: oxybenzone, octinoxate, octocrylene, benzophenone-1, 2, e 8, OD-PABA, 4-methylbenzylidene camphor, 3-benzylidene camphor, nano-titanium dioxide e nano-zinc oxide.