O indiano Pavan Sukhdev diz que é um capitalista completo. Não do tão apregoado capitalismo financeiro, mas daquele que entende a riqueza como uma combinação do capital físico (produtos e serviços efetuados pelo Homem), do capital humano (saúde, educação, inteligência), do capital social (elementos relacionados com a convivência em sociedade) e do capital natural (a possibilidade de respirar ar puro e beber água doce).
Este ex-economista sénior do Deutsche Bank tornou-se num guru da biodiversidade, quando, em 2007, foi decidido, num encontro dos ministros do Ambiente do G8+5 (grupo dos oito países mais ricos do mundo, mais cinco emergentes, Brasil, China, Índia, México e África do Sul), que seria necessário atribuir um preço às perdas, naquela área ambiental, e perceber, a partir daí, o que poderia fazer-se para melhorar ecologicamente o planeta.
Pavan Sukhdev foi convidado para liderar a equipa então constituída, ligada ao Programa do Ambiente, da ONU, e que deu origem ao relatório TEEB (The Economics of Ecosystems & Biodiversity). Desde então, já realizou diversos estudos acerca da temática da biodiversidade, com conselhos para a valorização dos ecossistemas e as mudanças que as empresas devem implementar para fazerem parte de uma verdadeira economia verde e deixarem o business as usual cujo único intuito é o aumento dos lucros. Um dos aspetos mais relevantes do estudo é a determinação do valor da natureza para, com base nesse conceito, se poder calcular as perdas causadas pela destruição da biodiversidade.
Alguns pontos-chave dos relatórios:
Podemos dar um preço à natureza? Sim e não. Ou seja, não tem exatamente um preço, dada a sua importância incomensurável, mas tem um valor. Estamos a destruir a natureza, porque não medimos esse valor em termos económicos. Dado que a economia se tornou a linguagem da política, se não calcularmos o valor da natureza, os governos ignoram-na. Por exemplo: em cerca de três décadas, os corais das Caraíbas foram reduzidos em 80% e, como consequência, o turismo do mergulho decresceu e estimase que as perdas rondem os €220 milhões por ano. Conclusão: devemos atribuir um valor aos serviços que os ecossistemas nos prestam, embora isso não signifique pôr um preço na natureza.
Então quanto custa a destruição da natureza? Estima-se que o custo anual se cifre entre 1,85 e 3,33 biliões (milhões de milhões) de euros. Nestas contas, está incluída, apenas, a destruição das florestas, das fontes de água e da vegetação. Estes cálculos tiveram como base o valor atual dos serviços que os recursos naturais prestam ao Homem, como ar puro, água doce, produtos florestais, turismo ecológico, potencial biológico das espécies, prevenção de inundações e controlo de secas. Calcula-se, ainda, que, todos os anos, se perca um valor equivalente a €50 mil milhões em serviços dos ecossistemas terrestres. Trata-se de uma perda de bem-estar, não de PIB, já que grande parte dos benefícios ambientais não se inclui no PIB.
E a ‘factura’ vai aumentar? Se o ritmo de destruição continuar como até agora, estima-se que, em 2050, o prejuízo será equivalente a 7% do PIB mundial. Quase o dobro do valor atual.
Quanto temos de gastar para reverter a situação? Todos os anos são investidos entre €5,9 e €7,4 mil milhões na preservação da biodiversidade, sendo que as áreas protegidas recebem a maior parte. O relatório TEEB calcula que seja necessário um orçamento anual de €33 mil milhões. Com um investimento destes, seria possível proteger serviços do ecossistema no valor de €3,70 biliões, em áreas protegidas. Um rácio custo/ benefício muito favorável, de 1 para 100.
As empresas têm de mudar o seu modelo de atuação? Sim. A “economia verde” tem de substituir a “economia castanha”, aquela que visa apenas o lucro. O business as usual já não é opção. As empresas contribuem para a degradação da biodiversidade ao não calcularem os danos que causam. Este modelo de Empresa 1920, como lhe chama Pavan Sukhdev, esconde os impactos da sua produção na natureza e vê os recursos naturais apenas como meio de consumo, sem levar em conta a sua extração sustentável, ou seja, limitando a sua disponibilidade futura. Há que mudar rapidamente.
Como deve ser esta Empresa 2020? Pavan Sukhdev cita Henry Ford (fundador da Ford): “Uma empresa que apenas produz lucros é uma empresa pobre.” Os objetivos da Empresa 2020 devem estar em linha com os da sociedade: aumentar o bem-estar e a equidade social, melhorar a harmonia social e comunitária, reduzir os riscos ambientais. Além disso, deve agir em conjunto com as comunidades locais e os seus trabalhadores, de forma a construir um capital social.
GLOSSÁRIO:
ECOSSISTEMA
Complexo dinâmico de plantas, animais e micro-organismos que interagem de forma funcional e unitária. Exemplos: desertos, recifes de corais, florestas tropicais, pastagens, pantanais, terras cultivadas. Podem estar relativamente inalterados, como as florestas tropicais virgens, ou modificados pela ação humana.
SERVIÇOS DO ECOSSISTEMA
Benefícios obtidos através dos ecossistemas. Exemplos: comida, água doce, madeira, proteção contra riscos naturais, controlo da erosão, ingredientes farmacêuticos, lazer.
BIODIVERSIDADE
Quantidade e variedade de organismos vivos das várias espécies (diversidade genética). Não é, por si só, um serviço de ecossistema, mas sustenta a prestação desses serviços.