Sabia que alguns tubarões podem ter mais de 30.000 dentes ao longo da sua vida? E que a esperança média de vida de um cabelo humano pode ser de 3 a 7 anos?
Nós adoramos dar números às coisas. Medimos, estimamos, quantificamos, precisamos de números para compreendermos o mundo que nos rodeia. No seu Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry, a quem pedi emprestado o título deste texto, ilustra-o muito bem.
É-nos muito difícil apreciar algo apenas pela sua beleza ou características. Temos que colocar um número: “Esta árvore é mesmo imponente, quando será que mede?”; “Que carro tão giro, que velocidade atinge?” – Para atribuirmos valor a alguma coisa temos que lhe atribuir um número. E a sociedade responde da mesma forma. Quem nos educa tenta fazê-lo pelos números. Encontram-se websites e livros em que a maior parte das curiosidades é transmitida através de números. E quem nos vende um produto faz o mesmo. Colocam à nossa disponibilidade muitos números sobre um equipamento qualquer que queremos comprar, sem sabermos ao certo se esses números vão interferir minimamente com a utilização que pretendemos dar ao equipamento. Mas olhamos, comparamos e levamos, certos de termos feito uma boa escolha. Na alimentação, entretemos-nos muitas vezes a comparar valores calóricos entre alimentos, sem termos uma noção do que necessitamos ao certo para o nosso dia-a-dia. Mas sabemos que um tem menos calorias que o outro, e ficamos satisfeitos com a informação.
Com um historial de tal proximidade com os números surge a colossal, mas urgente, tarefa de se tentar mudar mentalidades em torno da defesa do planeta, dos seus ecossistemas e das espécies que os habitam. Porque preservar, proteger, implica grandes mudanças na vida das pessoas. E investimento económico de governos e indivíduos.
Surge a dúvida. Afinal, porque é que devemos alterar a forma de fazer as coisas, algumas com investimento inicial associado, para conservarmos paisagens e animais? As pessoas para isso precisam de compreender, precisam dos seus números. E nem sempre é simples a sua obtenção. A IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), através da sua lista vermelha de espécies ameaçadas, identificou no início deste ano 20.934 espécies ameaçadas de extinção. Ao longo da minha vida, como apaixonado do estudo da Biologia e das suas mais diversas disciplinas, reafirmo que não conheço assim tantas espécies. E, no entanto, é este o número das que já atingiram um valor tão baixo em efectivos populacionais que se encontram em risco de desaparecer do nosso planeta, para sempre.
Mas nem estes números são suficientes, precisamos sempre de mais. Afinal, o que nos interessa que desapareçam uns quantos lagartos, rãs e escaravelhos, quando nos debatemos com problemas mais urgentes todos os dias? Com pessoas sem dinheiro para viver, tantas sem saneamento básico, com fome em tantos continentes. São questões e preocupações legítimas. E os governantes vêem-se forçados a questionar porque é que devem alocar verbas e recursos para o ambiente, quando ainda há tanto por resolver. Surgiu necessidade de mais números. Os cientistas dedicam-se nos últimos tempos a um trabalho essencial para a protecção do planeta – à quantificação da biodiversidade e dos ecossistemas. Afinal quanto custará ao ser humano perder determinados habitats? Quanto nos custará o desaparecimento de determinadas espécies? Começa-se a atribuir números à intrincada teia que forma os ecossistemas. Quando desaparece de um lado, toda a balança se desequilibra. E quando isso acontece, onde é que o ser humano é afectado? Muitas vezes
até sabemos como, só que precisamos de números para pensar em agir. Somos afectados no declínio dos stocks de pesca, no turismo, no surgimento de pragas, e de tantas outras formas.
As pessoas grandes adoram os números e, por mais triste e difícil seja ter que quantificar o planeta em que vivemos e no qual todas as outras espécies deviam ter o direito legítimo de habitar, é a eles que temos que recorrer para esta tarefa.
E com este texto, que conta já com 3548 caracteres, deixo o leitor a pensar a quantos mais números é que precisa de ter acesso para que dê ao planeta a ajuda que este necessita.