Em apenas 2% do território concentra-se 50% dos sete mil milhões de habitantes no planeta. No futuro, ainda mais pessoas se fixarão nos centros urbanos, e o Homem tem de agir e criar soluções adaptadas aos desafios que cada cidade lhe traz. A necessidade de restruturar as cidades, criando centros urbanos mais eficientes, justos, inovadores e sustentáveis, foi ontem debatida no GreenFest, pela voz de oradores de diferentes áreas.
O conceito de Cidades inteligentes é o tema central, sempre que se fala do futuro das metrópoles. Catarina Selada, diretora da área de Cidades e Território da consultora portuguesa Inteli, explicou ontem, 26, durante a conferência Cidades do Futuro, que o conceito de smart city está tendencialmente ligado às tecnologias de informação e comunicação e infraestruturas em rede, ao desenvolvimento urbano focado no mercado, às indústrias tecnológicas e à sustentabilidade ambiental, principalmente ao nível energético. Mas as cidades inteligentes têm de ir além das tecnologias, acrescentou a especialista. Devem ser equilibradas entre empresas, comunidades, governação e população geral, e ter por base as pessoas.
A abrangência do conceito está subjacente no “Índice de Cidades Inteligentes 2020”, no qual são analisados cerca de 80 indicadores agrupados em 5 dimensões: Sustentabilidade, Governação, Inclusão, Inovação e Conectividade. O relatório integrado será lançado em novembro (mais informações: http://www.inteli.pt/pt/go/indice-cidades-inteligentes-2020).
O conceito de cidade inteligente, no entanto, torna-se quase inatingível, devido à sua complexidade e abrangência. Como referiu Catarina Selada, a cidade de Masdar, que está a ser construída nos Emirados Árabes Unidos, apesar de se apresentar como “a primeira cidade sustentável do mundo”, livre de emissões de CO2 e dona de uma grande componente tecnológica inovadora e eficiente, não tem por base as pessoas: estas não participaram na tomada de decisão e a cidade destinar-se-á apenas a uma parte da população – os mais ricos -, resultando em exclusão social, numa cidade que se diz “inteligente”. (mais informação em: http://www.masdarcity.ae/en/).
O papel da população foi igualmente a preocupação central do presidente da Câmara Municipal de Cascais. Carlos Carreiras defende que os problemas e impedimentos ao futuro das cidades estão na desconfiança dos cidadãos perante a governação e num défice de cidadania. É preciso parar de construir cidades “estúpidas”, acrescentou o governante, restabelecer a confiança na governação e renovar o sistema democrático – criando regras claras, fazendo mais e melhor com menos recursos e dando liberdade às pessoas para agir, falhar e evoluir, aproveitando, assim, as competências, capacidades, talento e força do capital humano que cada cidade detém.
Ao longo da conferência, apresentaram-se ainda novas soluções e tendências para tornar as cidades mais tecnológicas, eficientes e sustentáveis. O projeto finalista do Solar Decathlon Europe 2012, “Casas em Movimento” (http://www.casasemmovimento.com/), foi um dos apresentados. Manuel Vieira Lopes, autor e coordenador do programa, descreveu a casa sustentável, autossuficiente e adaptável que desenvolveu, e que aproveita a luz e calor do Sol para satisfazer as necessidades energéticas do quotidiano dos seus habitantes. O projeto, porém, que tem recebido as atenções de empresas em Espanha, não consegue o mesmo reconhecimento em Portugal.
A este projeto, nascido na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, com potencial reconhecido lá fora, não tem sido dado o devido valor no seu país, criticas lançadas por um professor desta instituição universitária que assistia à conferência e realçou o interesse do projeto em Espanha
Como referiu José de Melo Bandeira, Administrador Delegado da Dalkia Portugal, “as soluções existem e estão em nós próprios, mas é preciso vontade e incentivos”.
Mais informação em:
http://cidadesinteligentes.blogspot.pt/2010/08/cidades-2010-25-carlos-leite-artigo.html