Há uns dias lia-se na comunicação social escrita, que a organização Sea Shepherd Conservation Society tinha encontrado o “calcanhar de Aquiles” dos baleeiros japoneses. Segundo a notícia, estes ativistas procuravam agora dedicar-se a impedir que um navio de abastecimento chegasse até aos baleeiros, do qual estariam dependentes para mantimentos e combustível.
Não pretendo aqui escrever (pelo menos neste texto) sobre a teimosia do Japão e de outros países (incluindo europeus, como a Noruega) em continuar a caçar baleias. Não pretendo abordar a anedota em que se transformou a Comissão Baleeira Internacional, com jogos de bastidores através dos quais se compram votos, oferecendo em troca a construção de infraestruturas, dívidas externas e outros mimos aos países com direito de voto, ou simplesmente aos seus delegados. O que gostaria de tentar perceber é como é possível ler-se uma notícia, que descreve uma atividade de pura pirataria, e ficar-se com a sensação de que, pelo menos, alguém está a proteger estes grandes mamíferos.
A Organização Sea Shepherd Conservation Society, pela orientação do seu dirigente Paul Watson, não se dedica apenas a colocar os seus barcos, que hasteiam bandeiras pirata, entre os baleeiros e as suas presas, ou mesmo a bombardeá-los com projéteis de vidro contendo um tipo de ácido que deixa um cheio pestilento. Uma das suas atividades consiste em abalroar embarcações que considera estarem a cometer atos ilícitos (quer contra baleias, quer contra tubarões), utilizando para o efeito navios equipados com estruturas que provocam estragos nos cascos dos seus alvos, quando abalroados, colocando assim as suas tripulações em risco. No decorrer da sua atividade, a Sea Shepherd foi responsável pelo afundamento de diversas embarcações, proeza que ostenta orgulhosamente no convés dos seus barcos, pintando os nomes e bandeiras daqueles que afundou.
Não considero que, com a sua atividade, esta organização esteja a defender a causa da proteção destes grandes cetáceos. Ao abalroar as embarcações esta organização coloca em perigo de vida os trabalhadores que desenvolvem a sua atividade naqueles baleeiros e barcos de pesca, como forma de garantir o seu sustento, e que não são responsáveis pelas políticas dos seus países.
Este tipo de atividade não deve ser aplaudido, mas censurado. Este tipo de ações enfraquece a credibilidade daqueles que procuram lutar pela causa ambiental por meios legítimos, pacíficos e educativos. Paul Watson não consegue senão atrapalhar a atividade baleeira. Não a interrompe e não sensibiliza a população para a causa.
Pergunto-me como reagiríamos se esta organização atacasse a frota portuguesa de pesca ao bacalhau, por este se encontrar ameaçado? Como é que reagiríamos se os barcos fossem afundados e as vidas dos pescadores portugueses colocadas em perigo? É certo que a atividade da pesca do bacalhau é permitida pela lei comunitária, mas também a da caça à baleia é permitida pela lei japonesa. É tudo uma questão do valor que cada cultura dá aos diferentes animais.
Ações como as da Sea Shepherd, de grande dimensão e mediatismo; ou como a dos ativistas do grupo Verde Eufémia, de menor dimensão e em que cerca de 100 indivíduos de cara tapada destruíram um hectare de milho transgénico em Silves, perante a impotência do proprietário da herdade, nada têm de romântico ou positivo. Os fins não justificam os meios. O fundamentalismo, verde ou não, nunca deixa de o ser. A razão perde-se e as causas enfraquecem.
Cabe-nos a nós saber o que devemos apoiar e censurar. Cabe-nos a nós saber discernir entre ativismo e vandalismo. Cabe-nos a nós saber não colocar tudo no mesmo saco, para que a luta pelo ambiente possa continuar a ser uma atividade forte e legítima.