Nunca a ideia de que o mundo é a nossa casa foi tão importante como agora. No Ano Internacional da Biodiversidade, o mais recente relatório da WWF, que vai na sua oitava edição, e apresenta uma análise detalhada do estado de conservação da Terra, mostra, em números, as feridas de um planeta cada vez menos azul. A procura imparável de bem-estar, nos últimos 40 anos, colocou o nosso planeta perante uma situação insustentável comida, bebida, energia e transportes levaram a um declínio de 30% da biodiversidade global e a uma pressão sobre os recursos naturais, ou pegada ecológica, na ordem de uma Terra e meia. Os sinais estão à vista e a mensagem é clara. Só falta interiorizá-la: é obrigatório mudar as nossas opções, sob pena de comprometermos, já não apenas o futuro dos nossos filhos, mas o nosso presente.
Para avaliar o estado da Terra, os peritos da WWF estabeleceram três parâmetros principais: o LPI ou índice de planeta vivo, um indicador do nível de biodiversidade, que reflete as alterações na saúde do ecossistema através do acompanhamento de 8 mil espécies de vertebrados; a pegada ecológica, que mede a pressão sobre os recursos naturais; a pegada de produção da água, que afere o uso do precioso líquido em diferentes países. Cada um destes parâmetros compõe o ramalhete do abismo.
A viragem aconteceu na década de 1980, quando a humanidade passou a consumir recursos renováveis a um ritmo superior à capacidade de regeneração dos ecossistemas e a libertar mais dióxido de carbono do que aquele que a Terra consegue absorver. A tendência tem vindo a acentuar-se. Em 2007, a pegada ecológica por pessoa era de 2,7 hectares, apesar de a capacidade produtiva da Terra ser de 1,8 hectares. Estamos, portanto, a consumir 50% acima das possibilidades de recuperação do planeta. Dito de outra forma, a Terra demoraria um ano e meio para repor os recursos gastos durante o ano e para absorver o CO2 emitido. É claro que se trata de valores médios. À cabeça, na exaustão dos recursos, especialmente na fatia relativa às emissões, estão os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), seguidos pelo grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China.