Um novo estudo, o mais completo até à data sobre a história dos pinguins, identificou um conjunto de adaptações genéticas das aves que perderam a capacidade de voar e se tornaram habitantes do meio marítimo há mais de 60 milhões de anos. A análise genética foi realizada a fósseis da espécie, ao genoma de pinguins atuais e ao genoma parcial dos que foram recentemente extintos.
As descobertas sugerem que os pinguins se adaptaram para sobreviver às mudanças ambientais que aconteceram nos últimos milhões de anos, desde alterações na visão, densidade óssea ou genes relacionados com a oxigenação do sangue.
Os investigadores sequenciaram genomas de 20 espécies e subespécies de pinguins vivos, incluindo também uma análise de 50 espécies fossilizadas, e concluíram que os pinguins evoluíram de um antepassado comum de um grupo de aves marinhas, onde está também incluído o albatroz.
Os resultados do estudo revelam que num primeiro momento, os pinguins desenvolveram a capacidade de mergulhar e posteriormente perderam a capacidade de voar, à medida que se adaptaram ao meio aquático.
A investigação sugere, também, que esta espécie se originou perto do que é hoje a Nova Zelândia, há mais de 60 milhões de anos. “Os pinguins são um exemplo perfeito de uma grande transição evolutiva, como a evolução de um estilo de vida aquático nas baleias ou a capacidade de voar em morcegos”, refere o paleontólogo de aves e coautor do estudo, Daniel Ksepka, do Museu Bruce em Greenwich, Connecticut, Estados Unidos.
“Sabemos que os pinguins evoluíram de aves voadoras, mas isso aconteceu há mais de 60 milhões de anos, e precisamos de olhar para o registo fóssil para reconstituir onde, quando e como é que isso aconteceu. Além disso, os pinguins são criaturas absurdamente adoráveis. Eles amam, lutam, roubam e, por causa da sua engraçada postura vertical, é muito fácil imaginá-los a terem as mesmas motivações que as pessoas”, acrescenta Ksepka.
Adicionalmente, o estudo propõe que as mudanças nas temperaturas mundiais e nas principais correntes oceânicas tenham sido importantes impulsionadores da evolução dos pinguins.
Adaptações genéticas
A investigação revelou uma variedade de genes provavelmente envolvidos nas adaptações fisiológicas únicas do pinguim, de acordo com a principal autora do estudo, Theresa Cole, da Universidade de Copenhaga, Dinamarca.
Os pinguins apresentam a taxa de evolução de mudança mais lenta de todas as aves. “Com o tempo, a evolução criou um grupo heterogéneo de interessantes personagens, desde os pinguins com longos bicos em forma de lança até aos pinguins com penas vermelhas, passando pelos pássaros com as patas 30 ou 60 cms mais altas do que as da maior espécie de pinguim da atualidade, o Imperador, que mede cerca de 1,20 metros de altura”, refere Ksepka,
A pesquisa mostrou mudanças genéticas associadas à visão, à dieta, ao tamanho corporal e ao mergulho. Os pinguins têm uma visão que é mais sensível à extremidade azul do espetro de cores, o que faz com que esta característica ajude a afinar a visão dos pinguins em relação à baixa luminosidade e capacidade de distinguir estímulos subaquáticos.
A evolução também provocou outras mudanças, como é o caso dos genes associados ao armazenamento de gordura e regulação da temperatura. Os pinguins perderam vários genes no início da sua evolução que estavam ligados à digestão dos exoesqueletos de crustáceos, sugerindo, assim, que os primeiros pinguins tinham uma dieta centrada em torno de presas, como os peixes e as lulas.
A equipa também descobriu mutações em genes associados ao armazenamento de cálcio, o que pode contribuir para os ossos densos que os ajudam a mergulhar. Os pinguins também reduziram os espaços de ar no esqueleto e aumentaram a espessura da parede óssea, para aumentar a eficiência de mergulho.
Com 75% das espécies de pinguins extintas, os investigadores alertam para o perigo das mudanças climáticas. “Pensamos, definitivamente, que estes animais são sensíveis às crises ambientais, e em muitos casos já estão considerados em perigo. Noutros casos, podem tornar-se muito mais vulneráveis nas próximas décadas”, conclui Ksepka.