Ficou famoso por cavalgar as maiores ondas do mundo, incluindo a Big Mama, a mãe de todas as ondas, uma vaga de pelo menos 30 metros que terá sido a maior alguma vez surfada. As suas proezas tornaram-no um embaixador do mar e um ídolo para crianças e jovens, e Hugo Vau tem aproveitado essa notoriedade a favor do Ambiente.
À VISÃO VERDE, o surfista fala das ações de sensibilização que tem feito junto dos mais novos, para lhes implantar a necessidade de proteger o oceano, cada vez mais poluído. “Às vezes limpa-se a praia e no dia seguinte já está tudo igual, ou quase”, lamenta. É por isso importante levar as pessoas a apaixonarem-se pelo mar. “Quem ama, cuida. Se as pessoas sentirem a beleza da Natureza, se se apaixonarem pela Natureza… Essa é a forma mais orgânica, sólida e duradoura de criar uma comunidade de amantes da natureza que cuidam e usufruem dela.” Afinal, diz, fala-se do paraíso além da vida, mas “no paraíso já nós vivemos”.
Quase vegetariano
O desportista recorda a sua vida ligada ao mar, de mais que uma forma: antes das ondas gigantes, Hugo fez-se pescador profissional nos Açores, ao comprar e restaurar um barco com 85 anos chamado Gigante. “A pesca mostrou-me outro lado. Apercebi-me de certos problemas, como o lixo que se atirava ao mar todos os dias. Comecei a incutir aos meus companheiros esse espírito de amar o mar, transmitir a ideia de que é dali que vem a comida e que eles, mais que ninguém, têm de o tratar bem. Colegas meus hoje têm os seus barcos e dizem com orgulho que não deitam lixo ao mar e ainda trazem todo o lixo que encontram.”
Para lá do lixo, Hugo Vau também se tem empenhado em ações de consumo sustentável, como a campanha da Docapesca “Carapau é boa onda”, que incentivava as pessoas a comerem carapau. “Os stocks estão saudáveis, ao contrário dos da sardinha. Outro fator importante é que o carapau é um peixe que está muito em baixo na cadeia alimentar, e quanto mais em baixo na cadeia alimentar, mais saudável é. Os peixes predadores, como o atum e o tubarão, têm maior acumulação de mercúrio.”
Por razões de sustentabilidade e de bem-estar animal, Hugo, hoje, é praticamente vegetariano, fora o peixe ocasional, que ele próprio apanha, e carne “duas ou três vezes por ano”.
Uma coisa que não muda é a sua ligação à água. “Confinado” ao ar livre, num terreno de um amigo no sul do País, tem o mar a um quilómetro a chamá-lo todos os dias. E ele responde, apesar de ainda estar a recuperar do acidente numa onda da Nazaré que quase o matou. “Ontem estive um bocadito na água, apanhei só duas ou três ondinhas, mas vim de barriga cheia. Fui lavar a alma no oceano.”
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