Esta reportagem lembra uma pescadinha de rabo na boca – e não é apenas por conter muitos metros cúbicos de água, variadíssimos animais que se dão bem nela e sal quanto baste. Pensamos nisso no último dia, ao largo da Praia dos Cavacos, em Olhão, quando estamos a acompanhar uma equipa de vigilantes do Parque Natural da Ria Formosa, à cata de artes de pesca ilegais, e damos com uma longa teia-de-carteiras iscada com berbigões. O cheiro dos bichos mortos ainda não incomoda, mas é suficientemente forte para atrair búzios, alguns demasiado pequenos para merecerem ser capturados.
O primeiro búzio da semana aterrara-nos aos pés uns dias antes, frente à península do Ancão, junto à entrada norte do Ludo que fica perto do Aeroporto de Faro. “Já lhes mostro também uma búzia”, avisara o senhor Lino, de quatro na água, a remexer o fundo lodoso da ria à procura de um H. trunculus com a concha mais comprida. Eram onze horas de uma manhã a cheirar a verão, a maré baixa quase atingira o seu mínimo, e este mariscador nas horas vagas antecipava um belo petisco com os amigos. Quanto a nós, estávamos ali para provar salicórnia, uma planta comestível que cresce espontaneamente em zonas de sapal e voltou a ser usada como alternativa ao sal marinho.