A clarabóia do prédio deixa passar uma luz muito bonita. O dia está quente, demasiado quente para quem, como Eduardo Prado Coelho, 62 anos, mora no último andar de um prédio lisboa, ali ao Conde Redondo. À porta, está Najila, de que Prado Coelho já falou numa das suas crónicas. Os leitores mais fiéis conhecem-lhe a vida, aquela que ele, todos os dias, vai revelando no jornal Público. «A minha vida fica devassada», haverá de dizer no final desta entrevista, já de gravador desligado, com a ironia dos que se riem de si próprios. Prado Coelho não se recusa a falar de si – nem mesmo da doença, recentemente diagnosticada, que agora lhe disciplina as refeições e lhe retira o fôlego para os três lances de escadas. Até o seu último livro (intitulado Nacional e Transmissível e publicado pela Guerra e Paz), sob o pretexto de escrever sobre coisas portuguesas, acabou por se converter numa autobiografia em forma de assim. Pessoal e instransmissível.
VISÃO: No seu último livro, define-se: «Um português de classe média, professor, escrevendo nos jornais, tendo uma certa vida pública e cerca de 60 anos, com uma filha, um neto e algumas histórias de amor.» Uma biografia de si próprio?