Lloyd «Bud» Winter, lendário treinador de alguns dos mais importantes velocistas norte-americanos da década de 60, deslocou-se certa vez a Portugal a fim de transmitir as suas experiências e conselhos. Durante alguns dias, no início dos anos 70, aqui explicou as técnicas e os métodos com que tinha fabricado campeões como Lee Evans e Tommie Smith, homens que corriam como o vento. Os treinadores portugueses ouviram-no com atenção, mas confessaram-lhe, no final dos trabalhos, que continuavam sem saber como «produzir» um atleta capaz de correr os 100 metros em menos de 10 segundos. O americano juntou-os e, então, em tom de confissão, anunciou que lhes iria contar o verdadeiro segredo: «Querem campeões? Então vão à América, tragam os melhores exemplares de pais e mães descendentes dos antigos escravos de raça negra e, daqui a alguns anos, quando os filhos deles crescerem, vão ter os vossos campeões.»
Se ainda fosse vivo, «Bud» Winter deveria ter sorrido, com satisfação, na noite de domingo, 22, ao ver como um atleta, vestido com as cores de Portugal, ganhou a medalha de prata, em Atenas, na final mais rápida de 100 metros jamais corrida nuns Jogos Olímpicos. O esguio Francis Obikwelu provou, em 9,86 segundos, que o lendário treinador tinha mesmo a receita «secreta» para fabricar um campeão.